A Terra é plana e a bola é quadrada
Por ROBERTO VIEIRA
O futebol é didático e evolucionista.
Porém, muitas vezes, terraplanista.
No futebol nem sempre o mundo dá voltas.
Existem vitórias e vitórias.
Mas algumas derrotas são únicas.
Definitivas.
Derrotas emolduradas por uma coroa de espinhos.
Com frases tristes.
Como a de Jules Rimet em 54.
Lamentando explicitamente a tristeza no olhar de Puskas.
Mesmo olhar do colega de genialidade Messi no Maracanã.
Muitos de nós, educados na justiça que tarda mas não falha.
Já descobrimos que não existe justiça no mundo.
Justiça, democracia e fraternidade são apenas palavras.
Invenções sociais.
Como a balela que os ianques pisaram na Lua.
Pênaltis que não são pênaltis entram.
O mais esperto sofre menos.
Os últimos serão os últimos.
Não existe outro Sarriá.
A coroa de espinhos não te dá a eternidade, apenas dor e Gólgota.
Foi tudo isso que Baggio sentiu em 1994.
Tudo captado pelas câmeras.
Embora Baggio não seja um vice na magnitude de Cruyff ou Barbosa.
Baggio era apenas mais um craque a descobrir.
Que a verdade das urnas é uma mentira.
Que depois da chuva vem o lamaçal.
Que o mundo não ficou melhor depois de Auschwitz.
Que nosso mundo é um conto de fadas sem final feliz.
Mas que é melhor esconder isso das crianças.
Pois os fins justificam os meios.
Principalmente, quando tem Romário e Muller na área.
Ou quando Higuain é o gene egoísta chutando uma bola quadrada.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/