A banalidade do mal
Por ROBERTO VIEIRA
A vida se repete.
Jogo segue.
E os juízes também.
Talvez sem a mesma violência.
Mas com a mesma interpretação.
O que pode ser até sinal de coerência.
Ou pode ser apenas o pecado da omissão.
1982.
Semifinais da Copa da Espanha.
O arqueiro alemão Schumacher voa sobre Patrick Battiston.
O lance poderia eliminar a Alemanha.
Colocar a França na final.
Mas o árbitro Charles Corver achou tudo normal.
Banal, segundo Hanna Arendt.
Talvez porque a maldade seja mesmo banal.
Schumacher salvou o time.
Battiston saiu desacordado de campo.
Semimorto.
Ontem era festa no Morumbi.
Festa bonita, exceto.
Por aquele lance que lembrou 1982.
O goleiro voando no vazio.
Derrubando o atacante cearense como um Panzer.
O árbitro solenemente ignorando o fato.
A vida se repete.
Jogo que segue.
Porque a violência é realmente banal.
Muito mais grave é tirar a camisa na hora do gol.
Isso sim, passível da fúria implacável da lei.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/