O 7 de julho holandês
POR ROBERTO VIEIRA
Era criança ainda.
Cores básicas.
Azul, verde, amarelo, negro.
Quando surgiu a nova tinta.
Laranja.
Naquele junho e julho.
De laranja se tingiram campos.
E eram tantos.
Que alguém gritou 'futebol total'.
Todos atacavam, defendiam e se moviam.
Imensos e esqueléticos holandeses voadores.
Teatro dos horrores uruguaios, argentinos e brasileiros.
Todos acostumados apenas ao passado e condores.
Aquela Holanda foi sonho de verão europeu.
Quando morreu.
Num insólito 7 de julho no Atentado de Munique.
Como se fosse refém ou terrorista de si mesma.
Esperança consumida pelo pragmatismo de Goethe e Gerd.
Ambos provando.
Neste mundo nenhum sonho se resiste.
Cada esperança é gol que se perde.
Pois, 45 anos depois dos garotos cruyfianos.
Chegam as meninas holandesas ao primeiro plano.
Sem o brilho, exceto a maquiagem.
Bela imagem no espelho de Haia e Amsterdã.
Spinoza aprovaria.
Jongloed assinaria embaixo com lentes de contato.
Neste 7 de julho sete dias antes da Bastilha.
Ninguém imagina a Holanda campeã.
Ninguém, nem mesmo o mais orange fã.
Mas não deixa de ser singular.
Que o futebol se repita helicoidal.
Neste novo mundo sem fronteiras de gêneros e DNA.
Onde a caixinha de surpresas traz bailarinas dançando ao som.
De chuteiras.
Cravos.
E batom…
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/