Entre a Lua e os 1000 gols de Pelé
No dia 20 de julho de 1969 eu estava na fazenda de amigos em Terra Roxa, uma cidadezinha um ano mais moça do que eu, na região nordeste de São Paulo, a pouco mais de 400 quilômetros da capital.
Fazenda Santa Alice, da família Ralston, de meus amigos e colegas de faculdade, Eduardo e Denise, onde se fazia uma deliciosa goiabada cremosa.
Naquele dia inteiro só se falava da chegada do homem à Lua, prevista para um pouco antes da meia-noite em nosso horário.
Aos 19 anos, admito, eu andava mais entusiasmado com a proximidade do 1000° gol de Pelé, àquela altura com 976 tentos.
Expectativa que duraria até o dia 19 de novembro quando, no Maracanã, de pênalti e contra o Vasco, ele chegaria à marca histórica e inatingível até hoje, apesar das lendas e das contagens fictícias de alguns, digamos, lunáticos.
Éramos uns dez estudantes de Ciências Sociais da USP e pelo menos um de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, também amigo até hoje, Odemiro Arthur Fonseca, apinhados no casarão à espera do grande momento em frente ao pequeno aparelho em preto e branco.
Precisamente às 23h56, quando já havia quem tivesse desistido de esperar pelo "Pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade", Neil Armstrong pisou o solo lunar.
Entre aplausos e vivas de todos nós, ouviu-se uma voz vinda de uma humilde empregada da fazenda: "Não entendo como vocês, estudantes, acreditam que isso não seja coisa de cinema americano".
Até hoje há quem não acredite, como há o que garantem que a Terra é plana.
Ou que alguém, além do Rei, fez 1000 gols.
Mas a Terra e a bola são tão redondas como hoje faz 50 anos que o homem chegou à Lua, embora sem resolver os problemas terrenos.
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