A morte do gênio João Gilberto
Aos 88 anos, o Brasil perde um gênio da raça.
João Gilberto é daquelas figuras que nascem a cada 500 anos.
Não o conheci pessoalmente.
Com ele tive apenas um contato, mas que revelou muito de sua personalidade originalíssima.
Pouco antes da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, eu estava em casa, de madrugada, quando o telefone tocou.
Atendi e ouvi:
"Juca, é o João."
"Que João?"
"O João, Juca, João Gilberto."
Reconheci a voz, temi que fosse algum trote, mas falei.
"Já estou em pé em posição de sentido."
"Juca, quero te pedir um favor e sei que você não vai dizer que fui eu que pedi. Mas diga ao Parreira que essa coisa da seleção entrar de mãos dadas tem de acabar, porque não é nada brasileira".
"Vou dizer, pode deixar."
"Obrigado, Juca".
E desligou.
Ao chegar em São Francisco, puxei Parreira de lado e transmiti o recado, dizendo apenas que era pedido de um gênio da raça.
O técnico sorriu e disse que ninguém tiraria da cabeça dos jogadores que o entrar de mãos dadas estava dando certo desde as eliminatórias.
De fato, o time seguiu assim até ganhar o tetra.
Não sei o que João Gilberto achou porque nunca mais telefonou.
Como até hoje não sei como ele tinha o telefone de minha casa.
Saudade para sempre.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/