André Midani -- ou Medonho
André Midani de tão lindo era chamado de Medonho pelos amigos.
Morreu aos 86, levado por um câncer no cérebro.
Sem exagero algum dá para dizer que foi um Papa da música brasileira.
Como executivo de grandes gravadoras, como produtor, se a música fosse boa, de qualquer gênero, tinha nele um ouvido privilegiado e um parceiro sensível.
A lista de quem ajudou a iluminar é interminável.
Pense num nome que componha, toque ou cante em português e em algum momento encontrará o cruzamento com Midani,
Passamos 50 dias juntos quando do sequestro de Washington Olivetto, pois éramos do grupo de negociação com os sequestradores.
Ele, descendente de sírios e eu de libaneses.
Ele com seu marcante sotaque francês e eu rouco de tanto ouvi-lo.
Claro que Washington não vai concordar com isso, mas para alguma coisa de muito útil aquela violência inominável serviu: pude conhecer o nosso Medonho de perto.
Ágil, culto, carinhoso, duro, incisivo, irônico, brilhante, a última vez que nos vimos foi no hospital, faz 45 dias.
Estava frágil, consciente e amigo.
Um amor de pessoa.
Neste dia terrível em que choro também a morte súbita de Clóvis Rossi, penso em André Midani como se ouvisse as Bachianas Brasileiras número 5 de Villa-Lobos.
Delicadamente.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/