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Blog do Juca Kfouri

Favela proibida no Flamengo

Juca Kfouri

20/04/2019 15h58

POR ESPN

Grito famoso entre torcedores, a expressão "festa na favela" deixou de ser utilizado nas redes sociais do Flamengo. Segundo a empresa que gerencia as contas oficiais do clube, o termo deve ser evitado por ser "associado à violência". As informações são do jornal "O Globo".

Segundo a publicação, a decisão partiu da empresa X-Tudo, contratada pela vice-presidência de comunicação rubro-negra. Diogo Rocha, gerente da conta, escreveu em orientação aos funcionários que favela "é algo associado à violência na cidade em que moramos".

"O que a torcida fala é o que a torcida fala. Podemos usar algumas coisas, mas não é porque a torcida fala que devemos falar", complementou.

Diretor-geral da empresa, Marcelo Gorodicht falou à reportagem sobre o assunto e confirmou a decisão de evitar a expressão, embora tenha garantido que não há um "veto".

"Desde que assumimos a conta, apesar de respeitar e enxergar muitas qualidades na linha de comunicação adotada até o final do ano passado, houveram (sic) algumas alterações por nós propostas e implementadas", disse.

"Não existe veto algum. Qualquer um pode usar esse termo e eu não tenho nada contra. Apenas consideramos que o Flamengo é favela, asfalto, mata, tudo. Então não estamos usando. Quem sabe até se acharmos pertinente, podemos usar. Mas veto não existe", completou.

A última vez que o termo "festa na favela" apareceu nas redes sociais do Flamengo foi no dia 10 de junho de 2018, em vídeo da torcida cantando em vitória sobre o Paraná, no Maracanã. Na época, a X-Tudo ainda não comandava as contas rubro-negras – assumiu em 2019.

NOTA DO BLOG:

Não surpreende que a nova, e deslumbrada, e nova-rica, direção rubro-negra adote tal medida higienista.

Equivale à direção do Corinthians criticar o uso do célebre canto "Corintiano, maloqueiro e sofredor, graças a Deus".

Clube mais popular de um país pobre, os novos cartolas do Flamengo cometem o crime de associar violência à pobreza, encastelados em suas coberturas na zona sul.

ATUALIZAÇÃO:

Em nota oficial para tentar desmentir a medida, a direção rubro-negra apenas a confirmou, como se pode ler abaixo:

"A matéria, ao pegar parte de uma conversa de profissionais do clube – que deveria ser restrita a eles –  tenta passar a ideia que "existe um veto" na utilização da expressão "festa na favela". Não é verdade.
O fato é que um canto alegre e contagiante da torcida não necessariamente precisa ser a melhor maneira para a comunicação da Instituição.
Não usá-la regularmente na comunicação Institucional não significa nenhum veto ao termo ou desvalorização de uma tradição da torcida".
E por que confirma a notícia?
Porque reitera não usar a expressão favela na "comunicação institucional".
E, ainda por cima, avalia que não é notícia uma "conversa entre profissionais do clube"!
Quem escreveu a nota não entende nada de jornalismo, confirma o que tentou desmentir e insiste no elitismo.
Sem se dizer que levou mais de 12 horas para botar cadeado na porta arrombada…
Não orna com o Clube de Regatas do Flamengo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/