Em time que está perdendo não se mexe!
POR ANTONIO CARLOS SALLES*
A equipe chegou a um marco histórico.
São 100 dias sem uma vitoriazinha expressiva sequer e o burburinho da torcida veio junto.
Ainda são gritos um tanto quanto abafados. Protestos à meia-boca.
Muitos torcedores não querem reconhecer que apoiaram o técnico e os atletas que ele trouxe pra formar a equipe.
Mas vestir a camisa do time e sair às ruas, peito estufado, não mais.
Por enquanto, só a torcida organizada.
A arquibancada, e principalmente a tribuna de honra, local dos ingressos mais caros, estão esvaziando a cada jogo.
O time desanda em campo mas o treinador não altera o bordão:
_ reforma o passe!
_ reforma o tiro de meta!
_ reforma o pé na forma!
E nada.
O jeito foi dispensar o auxiliar responsável pela educação técnica da equipe, um mestre em caneladas.
A coisa tá azeda.
Já teve jogador que se rebelou.
Ameaçou contar tudo o que viu e participou no escurinho do vestiário.
Por enquanto está na moita.
Prometeram que será transferido para um time de expressão.
Aceita Roma, Paris, Madrid, talvez Berlim. Coisa grande.
Dirigentes, crônica esportiva e torcida perceberam que o treinador nunca foi boleiro de verdade.
Já foi chamado de peladeiro.
O currículo de vitórias era papo furado.
Passou anos ali perto do banco de reservas, observando.
Ouvia as conversas mas eram táticas complexas, de gente experiente.
Fingia que entendia.
Mas como dizia o filósofo da bola, treino é treino, jogo é jogo.
Viajou.
Procurou se informar. Queria refrescar as ideias, motivar o time.
Até encontrou um "coacher", um cara parrudo, topete alto, tipo manda quem pode.
Voltou sabendo tudo de baseball e de como tomar conta de campos de golfe.
Vida de treinador não é fácil.
Ou está no calvário, ou no carvalho.
*Antonio Carlos Salles é jornalista.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/