Por que os salvadores sempre voltam?
POR ANTONIO CARLOS SALLES*
Zinedine Zidane está de volta ao Real Madrid depois de uma trajetória exuberante de títulos conquistados. Um daqueles raros casos do empregado que demitiu o patrão, que não se fez de rogado ao buscá-lo de volta.
O retorno de Zizu é uma aposta alta para trazer de volta o time merengue à ribalta do futebol mundial, revigorar o elenco e impor uma nova postura, de tática, gana e valores. Tirar o mofo e dar brilho ao time.
No Real Madrid, nunca há escassez de recursos.
Fábio Carrile fez percurso semelhante ao de Zidane, depois de impressionante arrancada em seu primeiro grande desafio num time de massa, embora ao sair, seu projeto internacional vislumbrasse outros cenários e mercados.
Carrile tem fama de recuperar jogadores "largados", fazer apostas certeiras e produzir uma ambição pelos resultados capaz de unir elencos dissonantes.
Há recursos pontuais, que nem sempre se mantêm na temporada seguinte.
Luiz Felipe Scolari está vivendo desde o ano passado o seu momento "Zidane", com elenco farto recheado de estrelas. Essa constelação ainda não brilhou como a torcida espera.
Mas não importa o resultado obtido, Scolari sempre será um ícone para a torcida palmeirense e seu nome tem irrestrito apoio.
O dinheiro da patrocinadora é farto.
Para os torcedores do São Paulo, o nome salvador seria Muricy Ramalho, se ainda estivesse na ativa.
Pelos investimentos do começo do ano, há dúvidas sobre sua existência.
Salvadores significam história e resultados. Os dois se juntam para dar o arcabouço de proteção ao trabalho em curso, administrar a paciência da torcida e afastar o olho gordo da concorrência, sempre rondando o vestiário alheio.
A história dos clubes registra salvadores eméritos, que vieram, foram e voltaram, suportados pela mística da chacoalhada no elenco, da injeção de ânimo e do lema "aqui é trabalho, meu filho", como catequizou o professor Ramalho.
Zé Duarte, na Ponte e Guarani, Celso Roth (Grêmio e Inter), Abel Braga e Joel Santana, em quase todos os clubes do Rio. Emerson Leão e Vanderlei Luxemburgo também foram chamados quando os times iam ladeira abaixo.
América-AM e Manchester United fugiram à regra. Amadeu Teixeira dirigiu o clube amazonense por mais de 53 anos. Alex Ferguson esteve à frente do MU por 27 anos.
*Antonio Carlos Salles é jornalista.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/