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Blog do Juca Kfouri

Empate no clássico mineiro da insensibilidade e das lambanças da arbitragem

Juca Kfouri

27/01/2019 13h06

Não bastasse a estupidez de fazer o clássico às 11h em pleno verão, a Federação Mineira de Futebol mostrou que não é solidária nem na lama, no drama, na trama da Vale que causou a tragédia de Brumadinho.

Restou aos jogadores dar o exemplo, sob silêncio no Mineirão, antes do começo do jogo.

Era óbvio que o espetáculo não poderia ser bom sob o sol das 10h, das 11h, do meio dia.

Para variar, lambança também do assoprador de apito, ao não marcar um pênalti, de Léo em Igor Rabello, para o Galo, dominado pelo Cruzeiro a partir de meia hora de jogo, quando o time azul criou pelo menos três chances claras de gol e Victor fez uma defesaça.

O segundo tempo seguiu com domínio azul, até que o assoprador viu pênalti inexistente de Igor Rabello em Fred, aos 13 minutos, convertido pelo artilheiro, embora Victor quase tenha pegado.

Como castigo vem a cavalo, o assoprador não aguentou apitar até o fim e saiu logo depois de marcar a penalidade, coisa que fez, aliás, já sem as melhores condições físicas. Uma lambança!

O Galo teria de agredir, coisa que não havia feito até então.

Mas quem esteve mais perto do gol foi Rafinha, ao mandar na trave de Victor, aos 25'.

Em seguida, Rafinha deu lugar a Jadson.

A superioridade cruzeirense é notória, mas era injusta a vitória, fruto de um pênalti inventado e de outro não dado ao Galo.

Verdade que, já com 1 a 0, Igor puxou a camisa de Fred na área e o assoprador também não assinalou.

Mas como dizem que o que é do homem o bicho não come, aos 35' Dedé derrubou Chará na área, foi expulso e Fábio Santos empatou.

Em vez de comemorar, desejou "força Brumadinho".

Em seguida, Cazares ficou frente à frente com Fábio e o goleiro levou a melhor, numa chance incrível para virar o jogo.

Com um a mais, era hora do Galo.

Mano Menezes trocou Fred e Thiago Neves por Murilo e Raniel e Levir Culpi tirou Chará para entrada de Terans.

Aos 47', Adilson fez falta burra em Henrique no meio de campo e tomou o segundo amarelo. Dez contra dez!

O volante Jair substituiu Ricardo Oliveira para o Galo recompor o meio de campo.

Os deuses dos estádios mais uma vez acertaram.

Com o empate, ninguém saiu do estádio em festa.

Não caberia mesmo, porque Minas está de luto.

Voltemos a Drummond:


I

O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.

II

Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!

III

A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.

IV

Quantas toneladas exportamos
De ferro?

Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/