Discurso de encerramento do 40° Prêmio Vladimir Herzog
Na noite desta quinta-feira, no TUCA Arena, em São Paulo, realizou-se a solenidade de encerramento do 40° Prêmio Vladimir Herzog, para as melhores reportagens sobre Direitos Humanos.
Com o teatro lotado, foi lido o discurso abaixo:
Amigas e amigos, neste domingo, daqui a apenas dois dias, o país vai eleger seu novo presidente.
Desnecessário dizer a vocês a gravidade do momento que vivemos.
Falo diante de uma nova geração de jornalistas, que haverá de ajudar a fazer um país mais justo para todos nós.
Em nome de Barbosa Lima Sobrinho, de Audálio Dantas, de Alberto Dines, de Fernando Pacheco Jordão.
O momento não se parece com nenhuma outra eleição presidencial na História do Brasil. Nenhuma!
Collor x Lula, Fernando Henrique, Lula x Serra, Lula x Alckmin, Dilma x Serra, Dilma x Aécio, nunca corremos o risco do resultado ameaçar a recente democracia brasileira.
Hoje o risco é iminente. Dramaticamente iminente.
Eu duvido que haja aqui um eleitor do candidato apontado como favorito nas pesquisas.
Porque seus eleitores têm solene desprezo pelos direitos humanos.
Não que sejam todos favoráveis à tortura, como o candidato da extrema-direita neofascista.
Mas há o que estejam surdos diante das barbaridades que "ele não", seus filhos, e correligionários mais próximos, dizem.
Não é preciso falar das críticas que temos sobre os governos da redemocratização para cá.
Viver é preciso.
Porque uma crítica não será justo fazer a nenhum desses governos: a de terem posto em risco a Democracia ou a liberdade de expressão.
Estamos postos diante não de uma dúvida, mas da certeza de que a Democracia será golpeada, até mais do que em 1964, caso as urnas consagrem o horror.
Os golpistas de então tinham, ao menos, algum pudor.
Fizeram o que fizeram, mas, envergonhados, se apegavam às mentiras para não admitir. Negavam torturar e matar.
Sabemos, dolorosamente, que torturaram e mataram.
Agora é ainda pior.
Porque os neofascitas anunciam a plenos pulmões o que farão — e já estão fazendo.
Urge derrotá-los.
E que fique bem claro: diríamos exatamente o mesmo, sem tirar nem por, se as alternativas fossem Alckmin, Meirelles ou até Amoêdo.
A hora é tão grave que não admite dubiedade, muito menos omissão ou neutralidade.
Barrar o obscurantismo, a perseguição às minorias, o autoritarismo, a arbitrariedade e a violência, se impõe.
Sem ódio e sem medo, com a indignação exigida por quem ama a liberdade, a igualdade, a fraternidade.
Em nome da memória de Ulysses Guimarães, de Dom Paulo Evaristo Arns e de Vladimir Herzog. E de Vladimir Herzog!
Que as luzes da liberdade iluminem o povo brasileiro para evitar a barbárie.
Temos dois dias para virar o jogo.
Temos o domingo para inundar o Brasil com uma onda democrática.
Vamos lutar até o último segundo do domingo para recomeçar a fazer o Brasil que queremos para nossas filhas e filhos, netos e netas. Para nós.
Nossa arma é palavra.
E a nossa fé não costuma falhar.
Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/