Ciro é homem demais
POR MARIO RUI FELICIANI*
Na época de Carandiru, livro muito importante, fotografei Dráuzio Varela pra uma entrevista da revista da São Francisco.
Deixei o clique um pouco pra perguntar por que ele só citava as visitas das mulheres.
– Só as mulheres vão. Homem raramente vai ver o pai, o amigo ou o irmão preso. Sou oncologista, é também assim com o paciente terminal. A maioria dos homens até passam pra visitar, rapidinho na hora do almoço, vestidos como vocês de paletó e gravata, entre uma reunião e outra, mas quem fica ali do lado é a mãe, esposa ou filha.
Os homens querem longe de si os "derrotados", pensei. Os presos e os doentes. Mais um defeito na conta da testosterona.
Agora o país está doente, o candidato tem razão.
Está infectado com o preconceito e o ódio, vírus fortalecido na cultura enlouquecida de Bolsonaro, outro hiper-homem, e espalhado pelo vetor mais eficiente que já se viu, o Whatsapp.
O país está doente e Ciro faz uma ligação lá de Paris "como vai, Brasil… força aí meu país… hoje não posso passar, tenho trabalhado tanto".
Acertei ao votar em Haddad.
Ciro é homem demais. Não serve pra presidente da república.
*Mario Rui Feliciani é escritor e fotógrafo.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/