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Blog do Juca Kfouri

É feia a crise: faltam gols, sobram chutões

Juca Kfouri

10/09/2018 14h20

Nove gols em nove jogos.

Nunca antes o país viu média tão baixa em uma rodada do Brasileirão em pontos corridos.

A média do campeonato é a menor desde 1990, quando foi de 1,89 gol por jogo, contra 2,16 até aqui em 2018, lembrando que 28 atrás a fórmula era outra.

Em 1990, aliás, tivemos uma temporada terrível.

A Seleção de Lazaroni foi mal na Copa da Itália, o Bragantino foi campeão paulista e o Corinthians de Neto, oitavo colocado na fase de classificação, acabou campeão brasileiro. No Rio, Botafogo e Vasco deram a volta olímpica depois do jogo final do estadual, com o Maracanã vazio.

Os Atléticos podem mudar o miserê hoje à noite, mas não está fácil.

Serão necessários três gols para empatar com a pior média da história, a da 32ª rodada de 2015: 12 gols.

Os jogos têm se caracterizado por chutões intermináveis, ligações diretas sem pudor, como as 43 do Palmeiras e as 44 do Corinthians no Dérbi de ontem.

Ou as 36 do Inter e 41 do Grêmio, no Gre-Nal.

Com mais de 80 mil torcedores nos dois estádios!

Para ver futebol ou apenas para torcer pelas vitórias de seus times?

Como os 43 mil que foram ao Morumbi também para outro pobre 1 a 0, 34 ligações diretas do São Paulo, 40 do Bahia.

O meio de campo não existe, é uma zona para a bola passar pelo alto, como se fosse um drone, um helicóptero, um avião a jato.

Jogava-se assim nos primórdios, jamais nos tempos de Didi, Gérson, Ademir da Guia, Rivellino, Sócrates, Falcão, Zico, Rivaldo, enfim.

Divida 87 chutões no Dérbi, ou 77 no Gre-Nal, ou 74 no Morumbi por 60 minutos de bola rolando em média.

Dá mais de um por minuto!

Fora as faltas…

E olhe que, na última rodada, o jogo recordista de bolas compridas foi Sport (45) x Cruzeiro (63). Um escândalo de 108 chutões!

OK, OK, OK, faltam talentos no futebol brasileiro.

Como faltavam no futebol inglês à época em que jogavam assim e com chuveirinhos na área.

Pois agora somos nós, os que os mesmos ingleses diziam que praticavam o beautiful game.

Será que não dá organizar os times de outro jeito?

O torcedor exigente quer ficar feliz com as vitórias, mas quer, também, sair do estádio satisfeito por um jogo com um mínimo de qualidade.

O que veremos nas semifinais da Copa do Brasil?

O Corinthians acovardado diante do Flamengo no Maracanã?

O Cruzeiro fechado contra o Palmeiras na casa verde?

E chutões, e 0 a 0, ou, quem sabe, 1 a 0?

Leia mais em S.O.S. futebol brasileiro.

Agradeço a Mauro Cezar Pereira pelos números do "footstats".

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/