O time de azul
Por ROBERTO VIEIRA
Meu caro Samuel Rosa,
Azul não era cor de time de futebol.
Nem amarelo cor de camisa de goleiro.
Azul era apenas a cor de Carlos Pena Filho.
Azul era a cor do céu mineiro.
Azul de um mar que Minas não conhecia por companheiro.
O único azul famoso era o balé azul do Millionarios pirata.
Mas era um azul transgressor.
Até que surgiram aquelas camisas azuis.
O distintivo constelativo no peito.
A mais bela camisa do futebol brasileiro.
Mais bela porque singela.
Brasileira no escudo.
Brasileira na bola de pé em pé.
Piazza para Dirceu para Hilton para Natal para Zé Carlos para Tostão.
Em meu colégio de jesuítas havia um torneio anual.
Em setembro, após as chuvas nordestinas.
Elegíamos o uniforme de cada turma.
Na minha foi fácil!
Ganhou o time azul.
Porque azul era o sonho da meninada.
Embora houvesse o time verde de Ademir da Guia.
O vermelho e preto de Caio e Reyes.
O tricolor de Mickey.
O vermelho e branco Claudiomiro.
O preto e branco Rivelino e Dario.
Os times eram as cores.
Ontem, durante a transmissão do jogo Cruzeiro x Flamengo.
O cracaço Júnior simplesmente voltou no tempo.
Voltou ao templo das cores infantis.
Um tempo em que nosso sonho era o time azul.
Como o dos nossos pais era um sonho branco.
O branco tatuado na pele negra de Dorval, Mengálvio, Pelé e Coutinho…
Naquele torneio de colégio.
Pintamos de azul nossas chuteiras.
Por não poder de azul pintar os campos.
E perdidos no azul nos contemplamos.
Bola na rede pra fazer o gol.
Quem de nós nunca sonhou em ser um jogador do time azul?
Nota do blog: Samuel Rosa não gostou de Júnior ter chamado o Cruzeiro de "time de azul" na transmissão do jogo de ontem.
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Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/