O pacote dos demitidos do Esporte Interativo não foi generoso como o prometido
"De tudo, o único consolo está em que os mais de 100 demitidos estão recebendo um pacote de saída digno, acima do que seria obrigatório".
Assim se encerrou a nota neste blog, na última quinta-feira, sobre o fim do canal Esporte Interativo.
Infelizmente, como se verá, não foi bem assim.
Hoje houve a reunião sindical no Rio e o blog ouviu alguns depoimentos dos presentes cujo resumo é o seguinte:
"É importante que essa informação chegue ao mercado para que fique o registro de que o decantado pacote para dar mais tranquilidade aos demitidos tratava-se, na verdade, de uma quase bazófia.
A rigor, foram oferecidos todos os valores legais de uma rescisão (incluindo FGTS + multa de 40%) e um pacote de 80% do salário multiplicado pelo número de anos completos de trabalho, além de uma extensão de seis meses do plano de saúde (o que é praxe hoje em dia no mundo corporativo).
Como em caso de adesão não haverá liberação do seguro desemprego, esse pacote servirá apenas para compensar o valor do seguro na imensa maioria dos casos, já que boa parte das pessoas não tem muito tempo de casa — embora a empresa tenha acabado por concordar em aumentar o valor para os casos em que este ficar abaixo do seguro desemprego.
Ou seja, não há bônus, carinho ou nada do tipo como foi anunciado no dia da demissão.
Se a Turner quis passar essa impressão, será bom botar os pingos nos is.
A reunião teve, por exemplo, um momento de enorme constrangimento.
Depois de um dos funcionários afirmar ser irrisório o valor oferecido no pacote, principalmente para aqueles funcionários que vieram de outros empregos, assim como os estagiários, o vice-presidente demissionário protagonizou cena lamentável: pegou o microfone e disse que estava no mesmo barco (embora tenha ignorado o abismo entre seu salário e o pago à maioria dos funcionários).
Diante da exposição de que os estagiários trabalhavam muito além do permitido por lei, reagiu afirmando que 'eles assim fizeram por que quiseram'.
A reação foi de revolta da maioria dos jovens que participava da assembléia convocada pelo Sindicato Interestadual dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual – STIC.
No fim, ficou a certeza do que já indicava uma pesquisa sobre a cultura da empresa promovida pela Turner há alguns anos.
A pesquisa apontou que o EI era um "canal de amigos", em que apenas um limitado círculo de pessoas tinham acesso às benesses. O que se verificou ser verdade.
No ambiente da redação, dos poucos que ficaram, há quatro casais: um, formado por dois executivos da ex-TV; outros dois, formados por um executivo e uma repórter; e outro formado por um executivo e a responsável pelo departamento de RH.
As pessoas acabaram se sentindo não só desprotegidas, mas desrespeitadas – sobretudo pela maneira como as pessoas foram comunicadas da decisão, como se fossem bois numerados a caminho do matadouro.
Mas houve outras situações, como o caso da repórter Liliam Fonseca.
Ela foi contratada no início da semana, apesar de a direção saber que o canal sairia do ar.
Como a empresa autorizou a contratação em tais circunstâncias?!!!
Com a concordância da emissora, ela abandonou sua cidade, Aracaju, e fez mudança e aluguel de imóvel em Recife, onde trabalhou só um dia como correspondente. Soube do fim do canal através dos portais de notícia. Sem maiores detalhes, satisfação ou compensação pelo prejuízo que sofreu ao seguir as instruções do empregador.
Este é só um pequeno bastidor de como um canal de TV, erguido por profissionais aguerridos, os transformou, nos estertores, em bucha de canhão para tão lamentável fim".
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Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/