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Blog do Juca Kfouri

Perder é do jogo. Vamos pensar no país

Juca Kfouri

08/07/2018 16h41

POR LULA

É difícil escrever sobre futebol e Copa do Mundo quando acabamos de sofrer uma eliminação imposta pela Bélgica, com competência e jogando melhor do que o Brasil.

O povo brasileiro tem que estar triste, porque o jeito que o Tite dirigiu o time, com muita sobriedade e muita harmonia, criou em todos nós a certeza de que a equipe iria privilegiar o coletivo. E mais uma vez não deu certo. Talvez porque, contra o Brasil, cada adversário dá um pouquinho mais de sangue.

Que fazer? Os chamados especialistas já começam a dizer o óbvio: que é preciso investir na base, pois a Bélgica investiu muito e está colhendo os resultados. E que portanto a culpa é dos dirigentes da CBF e outras coisas mais… Mas isso todo mundo já sabia.

Quer dizer: antes do jogo, tudo estava muito bom e alguns até diziam que centroavante não precisa fazer gol, que o jovem e promissor Gabriel Jesus estava cumprindo a importante função tática de ajudar a defesa. Mas não foi assim que as coisas aconteceram na Rússia.

Vamos ficar pelo menos alguns meses procurando explicar por que perdemos. Para não ter tanto sofrimento, é melhor compreender que perder é do jogo e respeitar o adversário que jogou melhor e mereceu a vitória.

É bom lembrar também que às vezes perdemos quando temos um time superior aos adversários, como aconteceu em 1982 e 86 com uma seleção extraordinária e um grande técnico chamado Telê Santana.

Precisamos lembrar que a Copa do Mundo começou a ser disputada em 1930 e o Brasil só foi vencer a primeira em 1958. Aí, em apenas 12 anos ganhamos três vezes. Mas depois de 1970 só vencemos de novo em 1994, ou seja, 24 anos depois. Voltamos a ganhar em 2002 e já se passaram 16 anos. Quando chegar a Copa de 2022, já serão vinte anos de espera.

O Brasil já não é o melhor futebol do mundo. Os melhores jogadores brasileiros saem para o exterior AOS 15, 16, 17, 18 anos de idade. O Brasil virou um exportador de matéria-prima, que será transformada em craques no exterior.

E já não existe mais surpresa na Copa: todo mundo conhece todo mundo e sabe como jogam.  Todo mundo conhece os jogadores brasileiros, porque eles estão na Europa, nos melhores clubes do mundo, onde se joga o melhor futebol.

É só ver os campeonatos da Inglaterra, Espanha, Alemanha, França ou Itália e vamos encontrar os titulares das seleções desfilando em campo, treinando taticamente, estrategicamente e tecnicamente sob orientação de estrangeiros.

A verdade é que, repetindo 2014, não jogamos bem nenhuma partida. Apenas contra o México tivemos momentos bons, sobretudo no segundo tempo. As nossas esperanças em campo não conseguiram jogar o que esperávamos deles.

Temo que teremos mais uma geração frustrada com a falta de títulos, mas é preciso lembrar que todas as seleções querem o prêmio e querem ganhar a Copa. Todo capitão sonha levantar o troféu e para isso tem ser campeão do mundo.

Que vença agora o melhor, e que nós, brasileiros, aprendamos lições com as derrotas, olhando as virtudes dos adversários e também os nossos erros.

A Copa volta em 2022.  Vamos voltar a pensar no Brasil, nos grandes problemas que temos, e procurar as soluções para diminuir o sofrimento do povo.

Vamos sem ódio, sem preconceito, convivendo democraticamente, construir um país mais igual, melhor e mais justo para todo o povo brasileiro.

Um abraço do Lula.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/