Topo

Blog do Juca Kfouri

Por que eles não param?

Juca Kfouri

06/08/2015 12h55

Na "Folha" de hoje:

Entre tantas dúvidas a assolar nossas pobres cabeças, há uma recorrente: não há limite para a ganância?

Por que gente milionária quer sempre mais e mais dinheiro?

Porque buscar mais poder é compreensível e aí estão as seguidas reeleições no esporte brasileiro para demonstrar. Mas dinheiro, depois de um certo ponto, para quê? Jantará duas vezes ao dia?

Alguém dirá não se tratar de ganância, mas apenas de ambição para fazer a roda do capitalismo girar.

Daí um Bill Gates não parar ou um Steve Jobs só ser parado pela morte.

Não são eles, nem tantos outros empreendedores, que despertam a pergunta sobre limites.

Trato de figuras menos nobres, não admiráveis, que vieram ao mundo apenas para enriquecer, por quaisquer meios, desonestos se necessário, anti-éticos, "espertos", às vezes disfarçados em causas humanitárias, na maior parte voltadas para os próprios umbigos.

Eis uma lista limitada, por ordem alfabética, com alguns cuja ganância levou à desgraça, se não financeira, mas moral, além até da perda do mais precioso dos bens, a liberdade.

Eduardo Azeredo, Fernando Collor, José Dirceu, José Maria Marin, Paulo Maluf e Ricardo Teixeira.

O primeiro teve de renunciar ao mandato de deputado.

O segundo perdeu a presidência da República.

O terceiro a liberdade e o respeito de toda uma geração.

O quarto está preso na Suíça, aos 83 anos.

O quinto vaga por aí feito um morto vivo, rico, abandonado e amedrontado.

O sexto também sentiu o gosto da prisão, mas como não é o terceiro, logo saiu.

Terá compensado?

Não dava para ter parado antes de ficar evidente que os meios eram ilícitos e tornar as punições inevitáveis?

Pouco me lixo para Azeredo, Collor, Marin, Teixeira e Maluf, mas a revelação de que Dirceu obrava em causa própria, embora não surpreendente, é dessas que, preto no branco, deprimem.

Deprime quem, apesar de equivocado, em busca de outra ditadura, a do proletariado, achou que um dia libertaria o Brasil pelas armas depois do golpe de 1964.

Deprime quem viu Zé Dirceu com a camisa ensanguentada do estudante morto por bala atirada pela direita na "Batalha da Maria Antônia", entre estudantes da USP e do Mackenzie.

Impossível não lembrar de Nabi Abi Chedid, já falecido, que presidiu a Federação Paulista de Futebol, foi vice, com muito poder, da CBF e deputado em São Paulo.

Homem de direita, de moral, digamos assim em respeito à sua memória, absolutamente complacente e elástica, pragmático ao extremo, um dia me encontrou no aeroporto de Congonhas, logo depois que o "mensalão" veio à luz e cobrou: "Não te disse que no poder todos ficam iguais?".

Pego de surpresa, reagi ingenuamente:"Não justifica, mas pelo menos não é para enriquecimento pessoal".

Ele abriu um sorriso largo, quase sedutor, e contra-atacou: "Não se engane, você vai quebrar a cara".

Collor, Marin, Teixeira, Maluf, jamais me enganaram.

O Zé sim. E como!

É imperdoável.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/