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Blog do Juca Kfouri

Resposta a Aidar em respeito aos são-paulinos

Juca Kfouri

22/01/2015 17h48

Diversos sítios da torcida são-paulina publicaram a carta que Carlos Miguel Aidar distribuiu entre seus diretores como endereçada a mim embora não a tenha enviado ao destinatário.

A menos que esteja ainda procurando meu endereço com a mesma lentidão da resposta à nota sobre a volta da BWA ao São Paulo, publicada no último dia 15.

Que fique claro, portanto, que respondo aqui ao teor da misteriosa carta que jamais chegou ao destinatário apenas em respeito aos torcedores do Tricolor.

Aliás, verdadeira mesmo na carta sem endereço do cartola é apenas a afirmação de que muitos são-paulinos lêem o blog.

É claro. Trata-se de gente incapaz de ser patética como Aidar ao se referir ao time do blogueiro, como se a questão fosse torcer para A ou B.

Mas vamos ao que Aidar escreveu, desde já estabelecendo uma preliminar:

No item 8 da carta, ele diz que firmou, no final do ano passado, contrato para "serviços de catraca e bilheteria" com Ingresso Fácil.

Ingresso Fácil é BWA.

No Painel da Folha de 5.12.2014 ele dissera que "de jeito nenhum" a BWA operaria as bilheterias do Morumbi, que as negociações com BWA se resumiam a negócios envolvendo atletas.

Se a função da imprensa é informar a verdade, não há razão para ouvir alguém que deliberadamente mente para a imprensa.

Abaixo, comenta-se cada ponto da carta fantasma:

1 – Ao interpretar a nota como tendo apontado "uma conspiração para assaltar os cofres do clube", Aidar comete ato falho.

A nota relata, com fatos, apenas que houve uma ação orquestrada para convencer o Conselho Deliberativo a aprovar o retorno da BWA ao São Paulo, dada a imagem que a empresa tem no mercado.

O "assalto" fica por conta da interpretação dada pelo próprio cartola, provavelmente traído pelo seu subconsciente…

2 – Qualquer dívida bancária que dobre – ou seja, aumente em 100% – em um ano caracteriza hipótese de usura por parte da instituição bancária credora. Nesse caso, o São Paulo deveria se defender juridicamente.

Tal capítulo da farsa, mais uma vez, tangencia o ridículo.

3 – Aqui, apenas choveu no molhado. É óbvio que cabe ao Conselho decidir, mas será melhor se não em clima de catástrofe e meias verdades, piores que muitas mentiras inteiras.

4 – O blog aponta que o diretor Osvaldo Vieira de Abreu dissera ao Blog de Rodrigo Mattos, neste UOL , que a situação financeira do clube era boa em março de 2014. E a carta confirma que o mesmo Osvaldo Vieira de Abreu informou a Aidar, no primeiro dia de sua gestão, ou seja, em abril de 2014, que a situação financeira era "trágica".

Não há insinuação nenhuma.

Somente a contraposição de dois diagnósticos diametralmente opostos feitos pela mesma pessoa, na mesma função de Diretor Financeiro, de dois diferentes presidentes, num período menor de um mês!

5 – Como presidente do São Paulo, Aidar tem a obrigação de tornar público tudo o que souber sobre a venda do jogador Lucas.

6 – Aidar diz que "preza a transparência". Pois bem. É simplesmente obrigatório que revele todos, absolutamente todos, sem exceção, os contratos que tenham sido firmados na gestão anterior que sejam prejudiciais ao São Paulo. Por que ainda não o fez?

Ao não fazê-lo, pelo motivo que for, AIDAR PREVARICA EM SUAS FUNÇÕES.

O que prejudica realmente o São Paulo é esconder negócios mal feitos, tenham eles sido feitos por Juvenal Juvêncio, ou quem quer que seja. Nada justifica escondê-los.

Aos funcionários do São Paulo que tenham sofrido qualquer forma de assédio moral por qualquer cartola tricolor, este blog está à disposição para receber suas informações e, se procedentes, publicá-las.

Da mesma forma, sob absoluto sigilo, qualquer funcionário que esteja sendo atualmente pressionado a fazer denúncias infundadas.

Assim como todo funcionário que tiver se sentido ofendido por ter sido chamado de "desmotivado" ou " incompetente" na entrevista dada por Aidar à "Folha de S.Paulo" em 15 de setembro do ano passado, ou tenha sofrido a angustia e apreensão ao ler o cartola dizer, na mesma entrevista, que iria manter apenas 95 de 950 funcionários.

Que saibam que isso também é assédio moral e poderá ensejar ação na Justiça do Trabalho.

Reitero que uma rápida pesquisa sobre o meu trabalho demonstrará quantas e quantas vezes critiquei Juvenal Juvêncio, sempre que entendi pertinente.

7 – A discussão sobre a contratação de Alan Kardec não reside na qualidade do jogador. Mais uma vez, por pressa (até estranha, para quem precisou de cinco dias para responder ao post) ou dificuldade de leitura e interpretação de texto, o que escrevi não foi bem interpretado. E a carta reforça a contradição. Se soube da situação financeira "real" do Clube no primeiro dia da gestão, como gastou R$ 20 milhões (entre transferência e comissões) à vista, para contratar jogador naquele momento?

8 – Segundo fontes bem informadas, o contrato firmado no fim do ano passado tem duração de cinco anos, o dobro do mandato de Aidar. Assim sendo, deveria ter sido submetido ao Conselho.

9 – Aidar concedeu coletiva em 16.12.2014, dizendo que "toda e qualquer pessoa que trouxesse bom negócio ao São Paulo FC faria jus à comissão". Como pode afirmar que não haverá comissão nesse caso, se o assunto ainda está "em estudos"? Por que não haveria comissão nesse caso. Todo "bom negócio" não enseja comissão? Não se trataria, portanto, de um bom negócio esse da venda da dívida à BWA em troca da exploração de 10 anos da bilheteria?

10 – O cartola fala em transparência ao longo de toda a sua longa, longuíssima, carta. Mas, nunca explica porque assinou um contrato com a Cinira Maturana em maio de 2014 (como diz na carta) e somente o tornou público em entrevista coletiva realizada em 16 de dezembro, provocada por matéria da "Folha de S.Paulo" de 15 de dezembro.

Sete meses para mostrar um contrato, forçado por uma reportagem de é tratar os temas do São Paulo de forma transparente?

Aidar fala que vai aplicar normas de responsabilidade no São Paulo.

Como advogado, bem que poderia trazer a público em qual norma de responsabilidade na gestão de empresas o presidente pode contratar sua namorada para intermediar negócios e receber comissões.

Seria nas normas da Coreia do Norte?

11 – Não há insinuações sobre o caso Puma. Há uma questão que a Justiça decidirá, como o cartola admite. Esperemos as provas da Puma.

12 – Que o Instituto Áquila seja bem-sucedido, é o que esperamos todos.

13 – Grandes bancos do Brasil e do exterior foram acusados de gestão fraudulenta mesmo tendo sido auditados pelas quatro grandes empresas de auditoria do mundo (são quatro e não cinco como a sua carta, em anglicismo cafona, pretende mencionar).

PS – Foi por causa da irretocável coluna de André, no diário "Lance!", revelando que Aidar tinha uma de suas filhas atuando dentro do clube, que Aidar fez a miserável traição a Juvenal Juvêncio apontando a ele a culpa pelo que lá havia sido dito. Mesmo sabendo que não foi, manteve a acusação, porque vinha bem a calhar para a farsa da BWA que agora confirma estar levando a efeito.

PS2 – Não se esqueçam os são-paulinos de fé que foi Aidar quem articulou a mudança estatutária para permitir mais um mandato a Juvenal Juvêncio.

No mínimo, a nação tricolor merece um cabal pedido de desculpas diante do que hoje ele pensa sobre seu antecessor.

Fosse no Japão, e não na Coreia do Norte, o erro só seria pago com haraquiri.

No Brasil, bastaria renunciar.

Não deve ser à toa que Vitor Birner publicou em seu blog que já se fala em impeachment de Aidar no São Paulo FC.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/