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Blog do Juca Kfouri

A Dama e o Futebol

Juca Kfouri

09/04/2013 11h40

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POR OLIVER SEITZ*

Independente dos inúmeros e válidos questionamentos sobre as suas posições políticas muitas vezes polêmicas, mas sempre enfáticas, Margaret Thatcher transformou o futebol mundial. Sua filosofia laissez-faire Smithiana foi fundamental para criar a idéia do 'football business', já que a dama de ferro marcou sua posição ao afirmar que 'football is just like any other business'.

Ao tratar clubes como qualquer outra empresa, ela reconheceu as transações mercadológicas que pautam a competitividade esportiva desde que o capital foi criado. Mais do que isso, imbuiu os clubes da responsabilidade do seu próprio sustento. Para ela, o futebol até podia ser um fenômeno social, mas nem por isso os clubes – entidades essencialmente privadas – poderiam ser sustentados pela sociedade. Se um clube quer existir, ele (ou os seus donos, ou seus torcedores) que dê um jeito de pagar suas próprias contas. Deu certo. Muitos clubes quebram na Inglaterra, mas, nem por isso, deixam de existir. Até agora, nas raras vezes que isso acontece, sempre aparece alguém, com capital privado, para pagar as dívidas e assumir o controle, sem causar maiores danos sociais.

O grande papel que Thatcher desempenhou não foi revolucionar o futebol. Foi criar as condições para que os próprios clubes descobrissem como revolucionar a si mesmos.

Foi assim, por uma análise mais simplista, que a sociedade inglesa favoreceu a criação da Premier League, que, pelo bem ou pelo mal, inspirou o surgimento e a reformulação de praticamente todos os outros campeonatos de futebol do mundo. Em alguns lugares deu certo, em outros nem tanto.

Para impedir que os clubes de futebol brasileiros continuem a histórica sangria de recursos públicos, o governo Dilma precisa adotar a mesma postura. Com isso, o próprio futebol tratará de achar um jeito de se organizar, ainda que isso certamente levará um bom tempo. Não será fácil, tampouco simples. Mas é fundamentalmente necessário para que o sentido da existência dos clubes de futebol no Brasil seja estabelecido.

A altura do penteado é parecida. Já tem uma semelhança. É um bom começo.

*Dr Oliver Seitz é PhD em Indústria do Futebol pela Universidade de Liverpool, Inglaterra.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/