A Dama e o Futebol
POR OLIVER SEITZ*
Independente dos inúmeros e válidos questionamentos sobre as suas posições políticas muitas vezes polêmicas, mas sempre enfáticas, Margaret Thatcher transformou o futebol mundial. Sua filosofia laissez-faire Smithiana foi fundamental para criar a idéia do 'football business', já que a dama de ferro marcou sua posição ao afirmar que 'football is just like any other business'.
Ao tratar clubes como qualquer outra empresa, ela reconheceu as transações mercadológicas que pautam a competitividade esportiva desde que o capital foi criado. Mais do que isso, imbuiu os clubes da responsabilidade do seu próprio sustento. Para ela, o futebol até podia ser um fenômeno social, mas nem por isso os clubes – entidades essencialmente privadas – poderiam ser sustentados pela sociedade. Se um clube quer existir, ele (ou os seus donos, ou seus torcedores) que dê um jeito de pagar suas próprias contas. Deu certo. Muitos clubes quebram na Inglaterra, mas, nem por isso, deixam de existir. Até agora, nas raras vezes que isso acontece, sempre aparece alguém, com capital privado, para pagar as dívidas e assumir o controle, sem causar maiores danos sociais.
O grande papel que Thatcher desempenhou não foi revolucionar o futebol. Foi criar as condições para que os próprios clubes descobrissem como revolucionar a si mesmos.
Foi assim, por uma análise mais simplista, que a sociedade inglesa favoreceu a criação da Premier League, que, pelo bem ou pelo mal, inspirou o surgimento e a reformulação de praticamente todos os outros campeonatos de futebol do mundo. Em alguns lugares deu certo, em outros nem tanto.
Para impedir que os clubes de futebol brasileiros continuem a histórica sangria de recursos públicos, o governo Dilma precisa adotar a mesma postura. Com isso, o próprio futebol tratará de achar um jeito de se organizar, ainda que isso certamente levará um bom tempo. Não será fácil, tampouco simples. Mas é fundamentalmente necessário para que o sentido da existência dos clubes de futebol no Brasil seja estabelecido.
A altura do penteado é parecida. Já tem uma semelhança. É um bom começo.
*Dr Oliver Seitz é PhD em Indústria do Futebol pela Universidade de Liverpool, Inglaterra.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/