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Blog do Juca Kfouri

A Copa Sul-Americana é tricolor!

Juca Kfouri

12/12/2012 23h34

Foto: AFP

Parece mentira, mas o São Paulo tentou impedir que o Tigre aquecesse no gramado.

A explicação oficial foi de doer: recomendação dos agrônomos por causa do show de Madonna, que castigou a grama.

A Papai Noel não se atribuiu nenhuma responsabilidade.

Sob a mesma justificativa, os argentinos não puderam treinar no estádio, como é de praxe.

Só que o aquecimento eles fizeram, na marra, ao atropelar cinco pobres seguranças e pular as placas de propaganda.

Mais civilizado, impossível.

Como nem os torcedores tricolores, nem os jogadores, têm ou tiveram nada a ver com isso, o Morumbi lotado foi palco de um belíssimo espetáculo na entrada em campo, com homenagens a Lucas, que retribuia, evidentemente emocionado.

Com William José que, como Lucas, se despedia, no lugar de Luís Fabiano, o jogo começou em clima de festa.

David contra Golias, ambos em busca de um título inédito na Copa Sul-Americana, o David sem nenhuma conquista digna de nota, o Golias com todos os títulos possíveis e imagináveis.

E quem logo tratou de mostrar os dentes foi o tricolor, para amedrontar o Tigre.

Wellington parecia um leão e os argentinos davam a sensação de querer colaborar com os agrônomos, sem vontade de jogar o jogo, mas apenas de fazer o tempo passar, catimbando ao velho estilo dos hermanos.

Uma guerra!

Aos 15 minutos, a primeira defesa da decisão: de Rogério Ceni…

Sete minutos depois, a apoteose: numa jogada de linha de passe, com a participação de quatro brasileiros, a bola foi aos pés de Lucas que a dominou de calcanhar para armar o chute que culminou no gol do desafogo.

O problema passava a ser todo do Tigre.

Porteira aberta, ficou fácil.

Osvaldo deu para Lucas, recebeu de volta, milimetricamente à frente, e fez 2 a 0 de cavadinha, com maestria.

Ensaiava-se uma goleada.

O Tigre estava desdentado.

E, sem bengala, continuava a não jogar, em busca de confusão.

Com as duas mãos na taça, o São Paulo administrava o resultado e se esforçava para não cair na provocação.

Até que,  no intervalo, o tempo fechou, porque o Tigre queria melar a festa e se aproveitou de uma pequena provocação de Lucas, que mostrou o algodão com sangue que tirou do nariz atingido por um adversário.

Por causa da briga, a tíbia arbitragem chilena expulsou Paulo Miranda e Díaz, um de cada lado.

Os visitantes não teriam razão alguma para a demonstração de maus perdedores que davam ridiculamente, não fosse o pecado original da cartolagem são-paulina.

Verdade que seu ônibus foi apedrejado na chegada do estádio, cena que se repete pela América do Sul.

O São Paulo também alega ter sido maltratado na Argentina, o que não justifica igual procedimento, e os argentinos, como argumento decisivo para desistir do jogo, acusaram a polícia de usar arma em seu vestiário.

O segundo tempo prometia ser quente, menos na bola, mais na mão.

Só que não haveria o segundo tempo.

O futebol paulistano, que já tinha o Corinthians campeão da Libertadores e o Palmeiras campeão da Copa do Brasil, estava em vias de fechar a consagração do Trio de Ferro com a Copa Sul-Americana em três cores.

Além de criar grande expectativa para a Recopa Sul-Americana-2013, disputada entre corintianos e são-paulinos, que já estarão, assim como os palmeirenses, na Libertadores.

Haja!

O São Paulo voltou com Douglas no lugar de Osvaldo, para suprir a ausência de Paulo Miranda.

Mas o Tigre não voltava.

Como não voltou.

Azar dele que fez um papelão só para não ouvir o Morumbi, com 67 mil torcedores, cantar é campeão.

E que deverá ser punido com longa suspensão.

Coisa do começo do século passado, digna de um timeco.

Simplesmente deplorável.

O mundo não acabou no dia 12/12/2012, mas o futebol da Conmebol recebeu um golpe perto do mortal.

O ano fica marcado por três encontros entre brasileiros e argentinos: o entre Corinthians e Boca Juniors, impecável; o que não houve em Resistência, por falta de luz entre as seleções dos dois países, sete títulos mundiais e o que aconteceu pela metade.

Foto: Reuters

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/