A Copa Sul-Americana é tricolor!
Foto: AFP
Parece mentira, mas o São Paulo tentou impedir que o Tigre aquecesse no gramado.
A explicação oficial foi de doer: recomendação dos agrônomos por causa do show de Madonna, que castigou a grama.
A Papai Noel não se atribuiu nenhuma responsabilidade.
Sob a mesma justificativa, os argentinos não puderam treinar no estádio, como é de praxe.
Só que o aquecimento eles fizeram, na marra, ao atropelar cinco pobres seguranças e pular as placas de propaganda.
Mais civilizado, impossível.
Como nem os torcedores tricolores, nem os jogadores, têm ou tiveram nada a ver com isso, o Morumbi lotado foi palco de um belíssimo espetáculo na entrada em campo, com homenagens a Lucas, que retribuia, evidentemente emocionado.
Com William José que, como Lucas, se despedia, no lugar de Luís Fabiano, o jogo começou em clima de festa.
David contra Golias, ambos em busca de um título inédito na Copa Sul-Americana, o David sem nenhuma conquista digna de nota, o Golias com todos os títulos possíveis e imagináveis.
E quem logo tratou de mostrar os dentes foi o tricolor, para amedrontar o Tigre.
Wellington parecia um leão e os argentinos davam a sensação de querer colaborar com os agrônomos, sem vontade de jogar o jogo, mas apenas de fazer o tempo passar, catimbando ao velho estilo dos hermanos.
Uma guerra!
Aos 15 minutos, a primeira defesa da decisão: de Rogério Ceni…
Sete minutos depois, a apoteose: numa jogada de linha de passe, com a participação de quatro brasileiros, a bola foi aos pés de Lucas que a dominou de calcanhar para armar o chute que culminou no gol do desafogo.
O problema passava a ser todo do Tigre.
Porteira aberta, ficou fácil.
Osvaldo deu para Lucas, recebeu de volta, milimetricamente à frente, e fez 2 a 0 de cavadinha, com maestria.
Ensaiava-se uma goleada.
O Tigre estava desdentado.
E, sem bengala, continuava a não jogar, em busca de confusão.
Com as duas mãos na taça, o São Paulo administrava o resultado e se esforçava para não cair na provocação.
Até que, no intervalo, o tempo fechou, porque o Tigre queria melar a festa e se aproveitou de uma pequena provocação de Lucas, que mostrou o algodão com sangue que tirou do nariz atingido por um adversário.
Por causa da briga, a tíbia arbitragem chilena expulsou Paulo Miranda e Díaz, um de cada lado.
Os visitantes não teriam razão alguma para a demonstração de maus perdedores que davam ridiculamente, não fosse o pecado original da cartolagem são-paulina.
Verdade que seu ônibus foi apedrejado na chegada do estádio, cena que se repete pela América do Sul.
O São Paulo também alega ter sido maltratado na Argentina, o que não justifica igual procedimento, e os argentinos, como argumento decisivo para desistir do jogo, acusaram a polícia de usar arma em seu vestiário.
O segundo tempo prometia ser quente, menos na bola, mais na mão.
Só que não haveria o segundo tempo.
O futebol paulistano, que já tinha o Corinthians campeão da Libertadores e o Palmeiras campeão da Copa do Brasil, estava em vias de fechar a consagração do Trio de Ferro com a Copa Sul-Americana em três cores.
Além de criar grande expectativa para a Recopa Sul-Americana-2013, disputada entre corintianos e são-paulinos, que já estarão, assim como os palmeirenses, na Libertadores.
Haja!
O São Paulo voltou com Douglas no lugar de Osvaldo, para suprir a ausência de Paulo Miranda.
Mas o Tigre não voltava.
Como não voltou.
Azar dele que fez um papelão só para não ouvir o Morumbi, com 67 mil torcedores, cantar é campeão.
E que deverá ser punido com longa suspensão.
Coisa do começo do século passado, digna de um timeco.
Simplesmente deplorável.
O mundo não acabou no dia 12/12/2012, mas o futebol da Conmebol recebeu um golpe perto do mortal.
O ano fica marcado por três encontros entre brasileiros e argentinos: o entre Corinthians e Boca Juniors, impecável; o que não houve em Resistência, por falta de luz entre as seleções dos dois países, sete títulos mundiais e o que aconteceu pela metade.
Foto: Reuters
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