Topo

Blog do Juca Kfouri

"Você é só minha!"

Juca Kfouri

08/10/2012 12h17

Desde junho de 2011 que escrevo uma coluna para a revista "Pais&Filhos" sob o título Vovô Juca.

Em outubro passado, na Semana da Criança, publiquei aqui as cinco primeiras, uma por dia.

O que repito agora, com duas.

A concorrência feminina começa desde cedo.

Camila é minha única filha, irmã de três rapazes.

E não tenho neto, só tenho netas.

Quando Luiza nasceu, quase sete anos atrás, Camila já era mulher feita, de 26.

Luiza, no entanto, demorou uma eternidade para aceitá-la como tal, isto é, como filha do avô.

"O que a Camila é do vovô?", perguntavam a ela.

E a resposta vinha de primeira: "Prima".

No máximo "prima" e olhe lá. Só faltava ela acrescentar: prima em terceiro grau.

Com Julia o problema se agravou.

"O que a Camila é do vovô?".

E a pequena, de quase 4 anos, responde sem pestanejar: "Nada".

"Como nada, Julia?"

"Nada, a Cam não é nada do vovô."

E pode perguntar para Julia o que o André, seu pai, e os outros dois tios, Daniel e Felipe são dele que a resposta é imediata: "São filhos".

O problema não está em não entender as relações de parentesco.

A questão é mesmo de concorrência feminina e, aí, minha filha vira ameaça.

E não imagine que elas não se dêem bem, porque se dão e muito bem.

Mas se Luiza já se curva aos fatos, Julia ainda resiste, porque, afinal, como ela diz:"Vovô, você é só minha".

"Mas, Juju, o vovô já explicou que quando você nasceu já tinha a Lulu. Então o vovô é seu e da Lulu."

"Não, vovô. Você é só minha."

"Juju, o papai não é seu e da Lulu?"

"É, vovô."

"A mamãe não é sua e da Lulu?"

"É, vovô."

A vovó Ledinha não é sua e da Lulu?"

"É, vovô."

"Pois então, o vovô também é seu e da Lulu."

"Não, vovô. O papai pode ser só da Lulu; a mamãe pode ser só da Lulu; a vovó Ledinha pode ser só da Lulu. Mas você é só minha."

E mais não diz nem lhe é perguntado, até porque quase a esmago de tanto apertar.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/