"Você é só minha!"
Desde junho de 2011 que escrevo uma coluna para a revista "Pais&Filhos" sob o título Vovô Juca.
Em outubro passado, na Semana da Criança, publiquei aqui as cinco primeiras, uma por dia.
O que repito agora, com duas.
A concorrência feminina começa desde cedo.
Camila é minha única filha, irmã de três rapazes.
E não tenho neto, só tenho netas.
Quando Luiza nasceu, quase sete anos atrás, Camila já era mulher feita, de 26.
Luiza, no entanto, demorou uma eternidade para aceitá-la como tal, isto é, como filha do avô.
"O que a Camila é do vovô?", perguntavam a ela.
E a resposta vinha de primeira: "Prima".
No máximo "prima" e olhe lá. Só faltava ela acrescentar: prima em terceiro grau.
Com Julia o problema se agravou.
"O que a Camila é do vovô?".
E a pequena, de quase 4 anos, responde sem pestanejar: "Nada".
"Como nada, Julia?"
"Nada, a Cam não é nada do vovô."
E pode perguntar para Julia o que o André, seu pai, e os outros dois tios, Daniel e Felipe são dele que a resposta é imediata: "São filhos".
O problema não está em não entender as relações de parentesco.
A questão é mesmo de concorrência feminina e, aí, minha filha vira ameaça.
E não imagine que elas não se dêem bem, porque se dão e muito bem.
Mas se Luiza já se curva aos fatos, Julia ainda resiste, porque, afinal, como ela diz:"Vovô, você é só minha".
"Mas, Juju, o vovô já explicou que quando você nasceu já tinha a Lulu. Então o vovô é seu e da Lulu."
"Não, vovô. Você é só minha."
"Juju, o papai não é seu e da Lulu?"
"É, vovô."
"A mamãe não é sua e da Lulu?"
"É, vovô."
A vovó Ledinha não é sua e da Lulu?"
"É, vovô."
"Pois então, o vovô também é seu e da Lulu."
"Não, vovô. O papai pode ser só da Lulu; a mamãe pode ser só da Lulu; a vovó Ledinha pode ser só da Lulu. Mas você é só minha."
E mais não diz nem lhe é perguntado, até porque quase a esmago de tanto apertar.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/