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Blog do Juca Kfouri

A verdadeira história da "Lei Agnelo/Piva"

Juca Kfouri

16/07/2012 11h25

De como dois Pilatos entraram no Credo graças à mulher do cartola

Por GIL CASTELLO BRANCO*

Sempre fui apaixonado pelo esporte.

Nadei no Botafogo, remei no Vasco e no Flamengo, treinei vôlei no CIB e joguei basquete no Fluminense.

Fui, ainda, goleiro do "Maravilha" no futebol de praia e praticante de Karatê.

Como você pode observar um atleta polivalente (ou seria insistente?) à procura de sua vocação.

Para completar, casei-me com uma ex – campeã brasileira de hipismo e todos os filhos praticam ou praticaram esportes.

Assim sendo, após o fracasso do Brasil na Olimpíada de 2000, justificado pela falta de financiamento regular, imaginei a Lei das loterias.

A verba da jogatina já estava distribuída e aumentar a parcela do esporte significaria reduzir a de algum outro órgão, o que era inviável.

Desta forma tive a ideia de aplicar um percentual sobre o valor bruto das apostas deduzindo o valor obtido do montante destinado aos prêmios.

Neste caso, o único a poder reclamar seria o já feliz ganhador.

Negociei com a CEF este percentual (à época só admitiram 1,5%). Para evitar os contingenciamentos orçamentários, fiz o dinheiro ir diretamente da CEF para os Comitês, sem passar pelo Orçamento Geral da União.

Como então assessor do deputado Agnelo Queroz- até aquele momento um político bem conceituado – entreguei-lhe o projeto pronto.

Tendo em vista que os maiores beneficiários seriam o COB e o CPB, encaminhamos minutas aos Comitês para eventuais sugestões.

Como a resposta do COB não veio, o Agnelo apresentou o projeto, tal como o concebi, na Câmara.

Tempos depois, texto quase idêntico deu entrada no Senado, apresentado pelo senador Pedro Piva.

O André Richer, vice do COB, contou-me, posteriormente, como o projeto do Agnelo chegou ao Piva.

Ao receber a minuta enviada pelo Agnelo, o COB achou a ideia ótima, como seria óbvio.

No entanto, julgou que um deputado do PC do B, em pleno governo tucano, não conseguiria aprovar a proposta.

Assim, a Márcia Peltier (mulher do Nuzman), amiga da família Piva, encaminhou a minuta ao senador do PSDB, solicitando-lhe que apresentasse projeto nesse sentido no Senado.

Assim foi feito.

De fato, o projeto do Piva no Senado tramitou mais rapidamente e, após aprovado naquela Casa, foi para a Câmara.

Nesta ocasião, o projeto do Agnelo (com o mesmo teor) foi apensado ao do Piva.

Daí o nome da Lei Agnelo/Piva.

Em outras palavras, os ex parlamentares, Agnelo e Piva , entraram de gaiato neste navio.

Como curiosidade – é possível que você já tenha observado – nenhum dos dois consegue explicar a lei da qual foram os "autores".

Lembro-me de que o Agnelo, ensaiando o seu discurso de posse no Ministério, dizia : "Sou autor da Lei que destina 2% dos prêmios das loterias ao esporte…".

Fui obrigado a interrompê-lo para dizer: "Agnelo, não é 2% dos prêmios. É 2% do bruto, abatido do prêmio, o que é muito diferente".

O Piva, sem nenhuma afinidade com o esporte, nunca falou sobre este tema.

*Gil Castello Branco é economista e fundador e secretário-geral da Associação Contas Abertas, cujo sítio presta inestimável serviço à cidadania.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/