Nem Marta mata o sonho americano
Publicado em "A Gazeta" do Espírito Santo no dia 8 de julho de 2011
Na decisão da medalha de ouro, em Pequim, três anos atrás, a arbitragem foi extramamente danosa para as brasileiras que acabaram injustamente derrotadas pelas americanas.
Hoje, em Dresden, na Alemanha, com casa lotada, outra vez a sorte foi madrasta logo de cara, aos 2 minutos, quando Daiane chutou contra o próprio gol e fez 1 a 0 para os Estados Unidos.
Que se aproveitaram da queda psicológica das brasileiras e ameaçaram aumentar o marcador.
Mas durou pouco.
Logo o time nacional se reequilibrou e assumiu o comando do jogo, criando duas ótimas chances numa cabeçada que foi para a rede pelo lado de fora e numa bola no travessão, meio sem querer querendo.
O segundo tempo foi ainda mais brasileiro até que, aos 22, Marta empatou batendo pênalti, um pênalti que Cristiane perdera em defesa da belíssima goleira Hope Solo, mas com invasão da defesa ianque.
Pênalti na própria Marta, que não jogava bem, depois que ela deu um fabuloso lençol duplo na zaga rival e que causou a expulsão da zagueira Buehler, aos 19. Sensacional!
Mesmo com uma jogadora a menos, no entanto, as estadunidenses não se intimidaram e até passaram a ameaçar mais do que faziam enquanto venciam.
Jogo tenso, nervoso como sói acontecer e com o crônico problema do time verde e amarelo, pouco compactado, jogando na base da ligação direta, porque se o meio de campo marca bem é quase incapaz de criar e de alimentar a dupla de atacantes.
E veio a prorrogação, com Francielle no lugar de Rosana, troca feita ainda no fim do segundo tempo.
Com uma jogadora a mais, obrigação brasileira de vencer.
Com pouco mais de um minuto, adivinha quem virou, ao receber, em posição de impedimento, de Maurine?
Sim, ela, a Rainha Marta, 14o. gol em Copas, empatada com a alemã Prinz, maior artilheira da história, em leve toque, por cobertura, uma bola que entrou lentamente, antes de bater no pé da trave e entrar.
Golaço!
A ex-jogadora do Santos e torcedora corintiana brilhava mais uma vez e estava a um gol de ser a recordista isolada, como Ronaldo Fenômeno, que fez 15 gols.
E a revanche incluía erro de arbitragem.
Aos 7, Andreia fez uma senhora defesa e evitou o empate.
Aos 10 Marta, bateu escanteio e quase fez gol olímpico, brilhantemente evitado por Hope Solo, que mais que esperança é realidade e realmente única, isolada no panorama das goleiras.
O segundo tempo da prorrogação foi preocupantemente norte-americano, com as brasileiras sendo submetidas a uma pressão que a vantagem numérica não deveria permitir.
Aos 7 minutos, Formiga teve de sair e entrou a zagueira Renata Costa.
A ordem era fechar, mas foi Francielle, em jogada de Marta, quem deperdiçou, aos 14, a melhor chance de gol.
Que custou caríssimo, porque, em seguida, Andreia saiu mal do gol e as americanas empataram com Wambach de cabeça, já nos acréscimos.
Uma lástima, e bote lástima nisso, embora deva ser realçada a garra das sobrinhas de Tio Sam.
E vieram as cobranças da marca de pênalti.
Daiane, que fez o gol contra, permitiu a defesa de Solo quando estava 3 a 2 para os EUA.
E as ianques venceram por 5 a 3, que enfrentarão a França nas semifinais.
A outra será entre Japão que, surpreendentemente eliminou as alemãs, e Suécia.
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