Três estrelas brilham nos céus da América
Nos primeiros 10 minutos , no feérico Pacaembu, o Santos deixou clara a sua superioridade: Arouca no primeiro minuto, Durval em seguida, ambos de cabeça na cara do gol uruguaio, Elano de fora da área e Neymar numa furada na marca do pênalti, ameaçaram fazer o primeiro gol.
O Peñarol, que marcava com denodo, só incomodou na frente aos 11, quando a defesa santista vacilou e o ataque uruguaio se assustou com a chance caída do ceu.
Aos 30, depois de uma certa calmaria fruto da ocupação bem feita dos espaços pelos uruguaios, Neymar foi derrubado na porta da área, pela esquerda, e o goleiro Sosa mandou a escanteio a cobrança de Elano.
Em seguida, em mais um ótimo passe de Ganso que quase só tocava de primeira com a categoria que trouxe de berço, Zé Eduardo bateu forte e cruzado na rede pelo lado de fora.
O Santos padecia com seguidos erros de passes, principalmente dos pés de Arouca, infeliz na noite decisiva.(Mas depois se recuperaria, e como!, no segundo tempo).
Aos 43, depois de começar brilhantemente um contra-ataque santista, na boca do gol, Léo pegou desgraçadamente mal na bola que Zé Eduardo lhe dera com afeto para abrir o placar.
O primeiro tempo terminava com Ganso como o melhor em campo numa finalíssima tensa, nervosa, que não viu Rafael fazer nenhuma defesa e o Santos merecer pelo menos uma vantagem mínima.
Mas tudo parecia ficar para o segundo tempo, ou para a prorrogação, ou, valha-nos o deus dos estádios, para os pênaltis…
Só parecia, porque, aos 87 segundos, Neymar, pela esquerda, completou uma jogada genial de Arouca com Ganso, de calcanhar, entre Sosa e a trave: 1 a 0!
Não era justo. Era justíssimo!
Aos 4, Corujo pegou Arouca para ser expulso e, na correta aplicação da lei da vantagem, Zé Eduardo desperdiçou o segundo gol.
Mas o árbitro argentino Sergio Pezzotta deu apenas o amarelo para o cavalo uruguaio.
O Peñarol abria sua caixa de ferramentas na tentativa de intimidar o Santos.
Mas no primeiro lance em que Corujo tentou participar, Léo aplicou-lhe desmoralizante drible da vaca.
E Neymar quase ampliou de fora da área.
Ensaiava-se um show.
(Pausa para fazer justiça: Adriano punha Martinuccio no bolso).
Aos 12, Zé Eduardo desarma limpamente e leva amarelo. Nessa altura já se via um combinado uruguaio/argentino, com 12, contra o time brasileiro.
Aquela velha coisa dos que falam castelhano contra os únicos que falam português.
Aos 22, sob amplo domínio santista, Léo saiu devidamente aplaudido para entrar Alex Sandro.
E, aos 24, Elano deu para Danilo se livrar do marcador e fazer 2 a 0 de pé esquerdo.
O tricampeonato da Libertadores deixava de ser um sonho para virar esplendora realidade e a terceira estrela branca brilhava no céu da América.
Aos 27 minutos, Rafael teve de fazer sua primeira defesa ao desviar uma bola que cairia em pés uruguaios.
Muricy Ramalho curtia seu primeiro grande título internacional, num segundo tempo que revelava eficácia e até alguma beleza.
Aos 35, no entanto, o inesperado fez uma surpresa injusta com o xerife Durval, que desviou contra a rede uma bola despretensiosa.
OK, com sofrimento é mais gostoso.
Aos 37, Neymar deu o gol para Ganso que perdeu mas deu para Zé Eduardo que também perdeu. Que coisa!
Dois minutos depois Neymar foi derrubado na área e o juizinho fingiu que não viu.
Pará entrou no lugar de Ganso, aos 41. Precisava mesmo?
Aos 44, em contra-ataque, Neymar mandou na trave e Zé Eduardo chutou o rebote incrivelmente para fora.
Poderia ter sido, sem exagero, 5 a 0!
Mas o que importa mesmo é que o clube brasileiro mais badalado pelo mundo afora é de novo o Senhor da América.
A festa que começa agora, aos 99 anos, não acabará antes de completar o centenário.
(As três estrelas lá em cima talvez devessem ser amarelas. Mas poderiam, hoje, parecer homenagem ao Peñarol. Brancas parecem melhor. Ou não?)
{Desnecessário dizer o quão lamentável, no país da Copa do Mundo, foi a invasão de um cretino que levou os uruguaios a reagir como reagiram}
(Ficou melhor?)
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/