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Blog do Juca Kfouri

A poesia do futebol

Juca Kfouri

20/10/2008 14h25


Por ROBERTO VIEIRA


"Ademir impõe com seu jogo


o ritmo do chumbo (e o peso),


da lesma, da câmara lenta,


do homem dentro do pesadelo."


No poema acima, João Cabral de Melo Neto homenageia o ídolo Ademir da Guia.


Poeta e craque em verso severino.


João Cabral poeta, craque e ex-jogador de futebol. Torcedor apaixonado do América-PE.


Ademir da Guia, poeta intuitivo. Decassílabo. Alexandrino. Divino.


O futebol de Canhoteiro também se emaranhou na memória de Ferreira Gullar.


Traduzindo uma parte na outra parte. Será arte?


Fosse o futebol um gênero literário, não seria prosa.


Tão pouco seria um romance com começo, meio e fim.


Fosse o futebol um gênero literário, o futebol seria poesia.


Pois todo jogador de futebol é um poeta.


Há os repentistas como Cafuringa, Rivaldo e Denílson.


Os poetas concretistas Dunga e Zagalo.


Os românticos como Telê, Mário de Castro e Tim.


Os épicos como Barbosa e Heleno de Freitas.


O haikai flamenguista de Radar e do ponta esquerda Júlio César. Breves. Simbólicos.


E como esquecer o Homero do futebol brasileiro, Nilton Santos?


Mas a poesia no futebol brasileiro não se restringe na habilidade com a bola nos pés.


A poesia no futebol brasileiro escorre da pena de Armando Nogueira.


Reluz no anjo de pernas tortas do poetinha Vinícius de Moraes. Ou na poesia cruzmaltina de Carlos Drummond de Andrade.


A poesia no futebol brasileiro ocupa até as crônicas do futebol brasileiro.


Pois não será poesia o texto de Mário Filho e Nélson Rodrigues?


Ou a camisa contra o vento de Roberto Drummond?


No dia 20 de outubro se comemora o dia nacional da poesia.


Outubro, não por acaso mês de Iashin, Charlton, Pelé, Maradona e Mané Garrincha.


Muitos torcedores apaixonados compreendem a poesia no futebol.


Outros tantos, não enxergam poesia nas quatro linhas do gramado. Exigem relatos jornalísticos. Pragmáticos.


Analíticos.


Mas tanto uns quanto outros gritam e choram no instante de um gol.


Rima rica de quem no futebol, simplemente, amou…

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/