Do blog de Alberto Helena Jr.
CASÃO, UMA VIDA
Neste meu meio século vagando pelas redações de jornais, rádio e tv, confesso, não consegui reunir convicção sobre a tênue linha que separa o público e o privado das celebridades.
Eis por que trato desse assunto com enorme constrangimento, me questionando sempre se o médico que trata do nosso querido Casão teria o direito de revelar à revista Placar o estado clínico do ex-craque e comentarista da Globo licenciado.
E, até onde a publicação estaria prestando um serviço público ao editar esse material.
Casagrande: uma só vida vale mais do que qualquer interesse ou convicção
Outro dia mesmo, a Folha publicou entrevista com uma das fontes mais cristalinas do melhor jornalismo, onde minha geração bebeu sabedoria do ofício, o jornalista norte-americano Gay Talese, a propósito da queda do governador de Nova York, colhido em milionárias transações com a prostituição de alto luxo.
A moral da história, segundo Talese, não estava no fato de o cidadão recorrer aos préstimos da mais antiga de todas as profissões, mas na hipocrisia de quem se elegeu governador e ganhou fama justamente pelo combate à corrupção, sobretudo, a rede de prostituição, enquanto na intimidade praticava tudo aquilo que publicamente condenava.
É a velha parábola do falso moralista.
Não é esse o caso em pauta. Casão nunca enganou ninguém, a não ser, talvez, a si mesmo. Vive não do nosso dinheiro, de impostos, essas coisas. Vive do dinheiro ganho com seu talento e suor nos campos de futebol e de sua inteligência diante dos microfones. E, sabe-se por que tramas do destino, caiu na armadilha trágica da dependência química e psicológica das drogas, uma doença amaldiçoada, por insidiosa e persistente.
Só me resta, como amigo e admirador, tanto do craque quanto do comentarista e do ser humano, desejar que ele, enfim, se livre dos tentáculos invisíveis mas de extensão infinita das drogas, na esperança vã de que a estupidez humana não venha a julgá-lo sob o crivo daquele falso moralismo que já destruiu tantas vidas por esse mundão afora.
E esperar que essa entrevista da Placar possa, de alguma forma, colaborar para o restabelecimento de Casão, pois uma só vida, seja da celebridade ou do anônimo da rua, vale mais do que qualquer interesse ou convicções que possamos ter.
enviada por Alberto Helena Jr.
http://ultimosegundo.ig.com.br/esportes/opiniao/alberto_helena_jr/
Nota do blog: Estava constrangido em tocar no tema, pelas históricas relações que já mantive com "Placar" e por ser amigo de Casagrande.
Mas Alberto Helena Jr. matou a charada, com a elegância que o caracteriza.
Limitei-me, na CBN, a dizer que só sendo cínico ou hipócrita um jornalista esportivo do eixo Rio-São Paulo poderia revelar qualquer surpresa com a notícia, que todos conhecíamos.
Dependentes químicos são doentes e a doença de uma pessoa pública é privada, se ela não interfere na vida dos outros.
É o caso, sem tirar nem pôr.
Ah, mas todo mundo perguntava "cadê o Casão?", o que é verdade.
Eu respondi a todos que me perguntaram com a verdade, nada mais: "ele está em tratamento de saúde".
Ah, mas do Maradona todo mundo fala sem cerimônia.
É também verdade, mas a diferença é que ele não esconde a coisa de ninguém, além de ter sido pego enquanto ainda jogava.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/