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Blog do Juca Kfouri

A polêmica dos gols

Juca Kfouri

07/02/2007 23h20


Afinal, quantos gols o Romário já fez de verdade?


Com o título acima, a revista "Mundo Estranho" publicou recentemente o texto que segue abaixo, a mais recente pesquisa confiável sobre o assunto, num trabalho dos jornalistas Artur Louback Lopes e Thais Aux.


Dependendo do critério usado, a contagem pode variar entre 987 e 859 gols (até o final de 2006).


A razão principal da diferença é que Romário e o Vasco – defensores dos 987 gols – contabilizam os 77 gols marcados pelo Baixinho antes da profissionalização.


Há ainda jogos festivos e amistosos, que, dependendo do critério, podem ser excluídos da contagem.


É o caso, por exemplo, de América-RJ 11 x 5 Amigos do Luisinho, em 1993, quando Romário marcou quatro gols.


Mas, se usarmos o critério adotado por Pelé – o único a atingir os mil gols almejados por Romário -, então temos que tirar só os gols amadores, já que Pelé contou gol até pela seleção das Forças Armadas.


Nesse caso, Romário teria 909 gols – além dos 77 amadores, descontamos o gol contra o Brasiliense no Brasileiro de 2005, cancelado pela justiça desportiva (e que Romário continua contabilizando).


Faltou, talvez, a revista dar duas informações:


1. Pelé, que completou 1000 gols aos 29 anos, nos 1281 que marcou contabilizou, de fato, os gols feitos pela seleção do exército, em 1958, quando, repita-se, já era profissional.


2. Sabe quantos?


Apenas 12.


Tire-os e Ele terá marcado 1269 gols.


Não há comparação.



E quantos gols marcou Friedenreich?


Leia o texto abaixo, esclarecedor, de reportagem publicada pela revista´"Época", de autoria do jornalista Mauricio Stycer, retirada da Wikipedia.


A polêmica em relação aos gols de "El Tigre" se deve à soma de um erro com uma falta de critério por parte do jornalista Adriano Neiva da Motta e Silva, o De Vaney.


Acontece que o "velho Oscar", pai de Fried, começou a anotar em pequenos cadernos todos os gols marcados pelo filho desde que começou a atuar.


Em 1918, o atacante confiou a tarefa a um colega do Paulistano, o centroavante Mário de Andrada, que seguiu a trajetória do craque por mais 17 anos, registrando detalhes das partidas até o encerramento da carreira de Fried, em 21 de julho de 1935.


A lenda ganhou consistência em 1962.


Naquele ano, Mário de Andrada disse a De Vaney que tinha as fichas de todos os jogos de Fried, podendo provar que o craque atuara em 1.329 partidas, marcando 1.239 gols.


Andrada, porém, morreu antes de mostrar as fichas a De Vaney.


Mesmo sem nunca comprovar esses dados, De Vaney resolveu divulgá-los, mas erroneamente inverteu o número de gols para 1.329.


A estatística, no entanto, começou a rodar o mundo, e ainda por cima na forma errada.


No livro "Gigantes do Futebol Brasileiro", de Marcos de Castro e João Máximo, de 1965, consta que Fried marcou 1.329 gols.


Outros livros e até enciclopédias referendaram o registro.


A FIFA, entidade máxima do futebol, chegou a "oficializar" os números, até que enfim, Alexandre da Costa conferiu os registros de todos os jogos de Fried em pelo menos dois jornais, "Correio Paulistano" e "O Estado de S. Paulo", e chegou a dois números surpreendentes: 554 gols em 561 partidas (espantosa média de 0,99 gol por jogo).


"Não quis destruir o mito", jura o autor de "O Tigre do Futebol".


"Adoro o Fried. Apenas quis esclarecer essa questão".


E, de fato, esclareceu.


Mais: Fried jogou até os 43 anos e sua carreira durou 26 anos.


Pelé jogou até os 37, 21 anos como profissional.


Romário já tem 41 anos e 22 de carreira profissional.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/