Sobre Milton Neves (continua)
Quanto a nomeação para o Conselho Nacional de Esportes, desconhece o descuidado Neves que essa, diante de uma recusa inicial minha, deveu-se a um apelo de Pelé a Roberto Civita, o dono da Abril, que me enviou um bilhete que termina simplesmente assim: "Bom divertimento!".
E que, quatro meses depois, já na "Folha de S.Paulo", não só pedi demissão do Conselho como publiquei o pedido em minha primeira coluna no jornal, por julgar incompatível com a função que passaria a exercer, quase diariamente, diferentemente da posição anterior em "Placar", revista mensal que pouco tratava de política esportiva.
Neves está mesmo desconsolado por eu ter escrito que não somos da mesma turma. Mas não era para tamanho surto, convenhamos. Complexo de rejeição tem limites, ou deveria ter.
É verdade que deve doer nele não encontrar nada escrito por mim que nem sequer se assemelhe com o que ele escreveu a meu respeito em uma de suas colunas, em 2/11/97, piegas e bajulatório, sob o título "Juca Kfouri": "Cerebral, polêmico, leal, bem-informado e ético, Kfouri está escrevendo uma bonita página dentro da imprensa esportiva e ajudando a formar uma nova geração de jornalistas apaixonados pelo esporte e despojados de vaidade, insegurança e futilidades. Kfouri é hoje uma estrela das universidades de jornalismo e um bom caminho para a garotada seguir".
O trecho sobre vaidade, insegurança e futilidade não precisa de Freud para ser explicado.
De fato, por mais que em diversas ocasiões o inseguro Neves pedisse para que eu o elogiasse, nem mesmo quando fui entrevistado por ele, pela última vez, em sua coluna auto-referente num jornal paulistano, o destaquei em quaisquer de seus fúteis itens, seja no "melhor do rádio" ou no "melhor da TV".
Imagino o tamanho do sofrimento. Deve ser de tirar o sono. A ponto de ele ver elogio meu num comentário em que registro que o programa "Super Técnico" não tinha "apelações publicitárias" com ele "despreocupado em aparecer". Talvez por ter fugido do Grupo Escolar em Muzambinho, além de escrever mal também não sabe ler.
É que, além do mais, ele não se conforma em constatar que jamais me omiti jornalisticamente em relação a Pelé, ao contrário do garoto-propaganda Neves que ocultou até em seu programa policial o caso Lousano e as milhares de vítimas da Unicór –e acha grave que alguém voe num avião da empresa quando ainda não havia nada contra ela.
E não entra em sua pobre cabeça, regida pelo tilintar da caixa-registradora, como é que eu pude me distanciar de Pelé porque este fez acordo com Ricardo Teixeira, no famigerado "Pacto do Futebol".
Até abrir mão de fazer a biografia autorizada do Atleta do Século eu abri.
Como não aceitei o convite, feito por Marcos Moraes, do Zipnet, para implantar, dirigir e ser sócio do Pelé.net, aí sim, incompatível com a independência de quem o tem como notícia — impossível ser sócio de quem é objeto de sua cobertura.
Mas Neves acha feio o que não é espelho, e embora olhe para Pelé como se fosse uma mina de ouro, gostaria que minha microempresa não tivesse cobrado por serviços de consultoria e organização de um seminário, com diversas tardes de debates, destinado a discutir o esporte brasileiro. Uma delas, por sinal, com destaque na "Folha de S.Paulo" do dia 18/11/94, com a presença de Pelé, Zico, Telê Santana, Nelson Piquet e Márcio Braga. A reportagem, de Humberto Saccomandi, teve como título "Pelé defende uso de greve no futebol" e traz declarações como esta, de Nelson Piquet: "Não existe democracia no esporte. Existe uma máfia tomando conta de tudo". Pelé concordou: "É normal no Brasil você debater com a máfia". De fato.
Como se vê, era um outro Pelé e o mesmo Piquet de sempre.
Ganancioso, Neves quer ganhar tudo sozinho, quer que os outros trabalhem de graça.
Lamentavelmente Neves não está em situação de discutir ética com quem quer que seja. Ele não!
Em seu sítio na Internet, resolveu publicar, sem checar, que um evento que aconteceu em 1994 foi em 1995, ambora haja fotos e a já aludida reportagem da "Folha".
Mas o que é isso perto de quem adultera documentos?
E, em sua coluna no "Agora", omite o trecho final de um texto meu para Pelé, Celso Grellet e Hélio Viana e, pior, criminosamente cola a minha assinatura no meio do texto original.
Também, pudera. Em sua desmesurada vaidade, e complexado por não ser levado a sério, chega ao absurdo de agredir e processar o narrador Sílvio Luiz porque este não lhe tirou o chapéu num programa de TV!
Ou bota na minha boca coisas que eu jamais disse, como a asneira de que jornalista só pode viver de jornalismo, como se não pudesse escrever um romance, um livro de poesias, dar aulas, fazer palestras, ser dono de restaurante etc. Jornalista não pode é fazer propaganda, algo impensável nos países mais adiantados, embora nem mesmo eu enfie no mesmo saco todos que o fazem, como aliás, o próprio MN sabe muito bem, pois até no ar já discutimos a questão. Mas, especialista em meias verdades, acaba por produzir mentiras inteiras.
Ele sabe com quem anda, quem são suas "fontes", mas não sabe o que faz.
Se bem que, até aí, morreu Neves.
SOBRE HÉLIO VIANA
Minha opinião sobre Hélio Viana está publicada na revista "Caros Amigos" de abril de 1997.
Compreensivelmente ele não gostou.
E, diga-se, foi manifestada muito antes do escândalo que fez Pelé dele se separar.
Convivi com ele durante todo o período da gestão de Pelé no ministério do Esporte e, muito embora tenha sido essencial para a aprovação da Lei Pelé, aprendi que ele tem extrema facilidade para se descolar da realidade.
A ponto de dizer que chorei ao ser demitido da Editora Abril e que tentou me arrumar emprego. Ele que já tinha dito que me ajudou a ganhar três Prêmios Esso, embora eu tenha ganhado apenas um, com a equipe de Placar.
Pois não só não chorei como não fui demitido da Abril, mas, sim da Placar. A empresa até um ano sabático me ofereceu. Preferi sair. E sai numa sexta-feira, 23/6/95, para estrear coluna na "Folha de S.Paulo", no dia 25. Devidamente indenizado pela casa para a qual trabalhei durante 25 anos. Convenhamos, não havia motivo para chorar.
Sobre ter escrito que ele, Celso e Pelé ocupavam um lugar especial em meu coração, eu poderia, se fosse cínico, dizer que os dois ocupavam o lado de dentro e ele o de fora. Mas foi apenas uma maneira carinhosa de tratá-los.
Já errei muito na vida, errarei mais, cometi equívocos graves ao acreditar em muitas pessoas, mas jamais fiz alguma coisa de que me envergonhe. Ao contrário, explico tudo.
Razão pela qual até agradeço a dupla MN/HV por ter publicado, mesmo que grosseiramente adulterado, o fax que enviei ao trio. Eu teria constrangimento em fazê-lo.
E acho graça quando HV diz que um filho meu, Daniel, passou uma época aos cuidados dele em sua casa em Joatinga. Jamais! Na verdade, ao ir fazer um estágio no Rio de Janeiro, meu filho, com 21 anos, que iria para a casa de um tio meu, compreensivelmente cedeu à insistência e gentileza do casal Hélio/Leila Schuster, e preferiu ficar, sozinho, no apartamento dela, na Lagoa Rodrigo de Freitas.
Depois, de fato, passou um curto período em apart-hotel de Hélio Viana, sempre só.
A vida é assim.
Milton Neves, por exemplo, nunca se perdoará por ter aparentado tanta intimidade e admiração por mim. A dor da rejeição deve ser insuportável e produz meias verdades em mentiras inteiras.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/