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Blog do Juca Kfouri

Memória

Juca Kfouri

13/05/2006 20h59

 


Matéria públicada na revista "Isto É", em setembro de 2002.


 






  ESPORTE 18/09/2002







 


 


Na parede






Um rolo da Líbia
Jogo não realizado causa problemas ao ex-técnico Zagallo







Eduardo Marini








Andrew Wallace/Reuters

Dois episódios impressionantes agitam os bastidores do futebol brasileiro. O primeiro é uma história esquisita de um jogo que não ocorreu. O segundo, surgido no rastro desta revelação, é a descoberta de que o ex-técnico da Seleção Brasileira, Mário Jorge Lobo Zagallo, cobra – e recebe – o cachê mais alto do planeta por uma série de entrevistas. Os casos estouraram na terça-feira 10, numa reportagem dos jornalisas Juca Kfouri, Erich Beting e Rodrigo Mattos publicada pelo jornal Lance!. Os três repórteres mostraram que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) recebeu R$500 mil em 1995 para jogar uma partida amistosa contra a Líbia, em Trípoli. O jogo nunca foi realizado e a CBF ficou com o dinheiro. Menos de um mês depois da assinatura deste contrato, pousou macio numa conta corrente de Zagallo no Exterior, número 10.569, do Alpha Bank Limited, no paraíso fiscal das Bahamas, um depósito de US$ 500 mil, cerca de R$ 1,5 milhão no câmbio atual, feito pela Dar El Ssada, a mesma empresa quem em nome da federação líbia, tinha assinado o compromisso com a CBF para o jogo em Trípoli. Os dois depósitos foram feitos pela mesma pessoa, Al Usta Giuma. Na tentaiva de acabar com a suspeita de lavagem de dinheiro e de deesvinvular os dois casos, a CBF se defendeu mostrando três cartas enviadas pela Dar El Ssada que liberariam a confederação para devolver o dinheiro, caso os líbios cancelacem o amistoso pela segunda vez. Mas Zagallo sofre um pouco mais para explicar as circunstâncias em que a dinheirama desembarcou na sua conta.


O contrato para o jogo foi assinado por Ahmed Ramandan, diretor da Dar El Ssada, e Marco Antônio Teixeira, tio do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e secretário-geral da entidade, em 16 de agosto de 1995. O jogo seria realizado no dia 6 de setembro seguinte, mas foi adiado para 4 de outubro do mesmo ano e novamente cancelado. No primeiro documento exibido até agora pela CBF, datado de 27 de agosto de 1995, a Dar El Ssada pede o adiamento da partida, alegando que o estádio não ficaria pronto a tempo. Dois dias depois, em 29 de agosto, Ramadan enviou uma carta à CBF: "Ora concordamos quem no caso de que o jogo não venha a ser realizado na data acima (4-10-95) por nossa responsabilidade, renunciamos especificamente a receber de volta o pagamento efeturado a V. Sas." No dia 27 de setembro, oito dias antes da nova data, Ramadan pede o segundo adiamento, pois a Fifa estaria impedindo os líbios de realizar o jogo por causa de uma dívida não paga. "Como eles desmarcaram duas vezes, não devolvemos o dinheiro", disse Marco Teixeira através da assessoria de imprensa da CBF. "Quanto ao caso do Zagallo, é problema dele, não temos nada com isso", finalizou.










E agora, Lobo?





Zagallo falou a ISTOÉ sobre o depósito.
ISTOÉ – Por que o sr. recebeu os US$500 mil?
Zagallo Um jornal líbio, chamado Al Saad, sei lá, queria fazer algumas entrevistas comigo. Pedi e os caras pagaram. Esse Juca (Kfouri) é um invejoso. Sempre quis me detonar, inclusive na copa de 1998, para colocar o Luxemburgo.


ISTOÉ – Nas não é muito dinheiro para uma entrevista? O ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, que até ontem mandou no mundo, cobra US$150 mil por palestra…
Zagallo Problema dele. Ninguém tem nada com isso. O Pelé não tem o preço dele? E o Guga? O único tetracampeão mundial também pode ter o preço dele.


ISTOÉ – O sr. teme ser investigado pelo Fisco ou pela Justiça?
ZagalloNão é crime ter conta no Exterior, desde que você declare tudo bonitinho…


ISTOÉ – E o senhor declarou?
Zagallo Isso é problema meu e da Receita Federal.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/