Quem melhor do que Zico poderia guardar a taça?
A Copa União de 1987 até hoje é motivo de polêmica e de muita confusão. Há polêmica porque tem gente que não quer aceitar o óbvio, ou seja, que, dentro de campo, o Flamengo foi o campeão brasileiro daquela temporada. E confusão porque, com o passar do tempo, inventou-se que o Flamengo não cumpriu um regulamento aceito por todos – quando o regulamento que a cbf quis impor só foi publicado depois que a Copa União estava em andamento e jamais foi aceito pelo Clube dos Treze, que, ali, nascia cheio de idealismo.
Mas, se há polêmica e confusão, há, ainda, mistério. Afinal, que fim levou a Copa União, a taça em si? Estaria com o Flamengo? Não, não estaria, porque o Flamengo a devolveu quando começou o torneio de 1988, que também deveria ser Copa União, mas que acabou se desvirtuando por acordos entre os clubes e a cbf.
Mas eu sei onde está a taça. O Zico também sabe. Porque a Copa União está na casa dele, em sua sala de troféus. Ele a ganhou quando se despediu do Flamengo, em 6 de fevereiro de 1990, numa festa inesquecível no Maracanã, na mais bela despedida já acontecida nos campos brasileiros, estádio lotado, com direito a facho de luz na entrada do ídolo, raios laser assinando seu nome, hino e tudo o mais a que o maior ídolo da maior torcida do mundo tinha direito. A Copa União, por exemplo.
Zico a recebeu de minhas mãos, na única ação não-prevista da festa milimetricamente planejada. Foi uma surpresa para ele e para quase todos os organizadores da feérica cerimônia, com cerca de 100 mil torcedores que perguntavam, em coro: "Por que parou? Parou por quê?" Só o comandante da festa, o publicitário, amigo de infância de Zico e autor de um livro sobre o Galinho (Zico – uma lição de vida, Brasília, Offset, 1986), Marcus Vinicius Bucar Nunes, sabia.
O troféu, belíssimo, com quatro colunas gregas banhadas de prata que sustentam uma base sobre a qual repousa uma bola de mármore, criado pelo artista plástico são-paulino Carlos Fajardo, tem cinqüenta centímetros de altura e pesa doze quilos, daqueles, portanto, que capitão do time pode erguer sozinho, diferentemente das taças paquidérmicas feitas pelo país afora nos últimos tempos.
E o que é que eu tenho a ver com tudo isso? Ora, o troféu foi oferecido pela revista Placar, que então eu dirigia, razão pela qual tive a honra de pisar o gramado do Maracanã para entregá-lo a Zico, que ficou verdadeiramente surpreso: "O que é isso? O que você está fazendo aqui? Ninguém me avisou…" Tratei de responder rapidamente, porque Marcus Vinicius me concedera apenas um minuto para quebrar o cerimonial: "Galinho, a Copa União deveria simbolizar um marco na organização do nosso futebol. Como a cartolagem esculhambou tudo, ela é sua, símbolo do que há de melhor no Brasil. Muito obrigado por tudo". Ele me abraçou, pegou a taça e continuou a festa.
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Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/