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Blog do Juca Kfouri

Coluna deste domingo na FOLHA

Juca Kfouri

30/10/2005 21h34

FUTEBOL

A vez do "esquema MSI"

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

Neste espaço, a CBF foi chamada de Casa Bandida do Futebol.
Valeu processo, no qual se reconheceu o direito do jornalista.
Entre outros motivos, para não falar do sagrado direito de opinião, porque no futebol quem faz gol contra joga mesmo de bandido, expressão consagrada.
E a CBF se esmera em fazer um gol contra depois do outro, sem parar.
Razão pela qual o futebol não goza de credibilidade.
Nem mesmo quando a opinião pública se manifesta a favor de uma decisão, como mostrou o Datafolha em relação aos jogos anulados, a descrença diminui.
Como falou-se em "esquema Parmalat" nos anos 90, fala-se agora no "esquema MSI".
É claro que tem muito a ver com a paixão dos torcedores contrariados, com a tradicional tentativa de desqualificar as conquistas dos adversários, com as inevitáveis brincadeiras sem as quais o futebol não seria mesmo o que é.
Só que há mais. Há por que não acreditar.
Sobre a Parmalat descobriu-se depois estar envolvida num gigantesco esquema de lavagem de dinheiro, o que permitiu respaldar sérias desconfianças sobre arbitragens arrumadas para tirar o Palmeiras da fila, ainda mais numa federação de futebol, como a paulista, cujo presidente precisou cair fora para fugir da Justiça. E cujo sucessor manteve um árbitro com diploma falso.
Sobre a MSI, até antes que consumasse sua parceria com o Corinthians, já se sabia, graças à imprensa, da origem nebulosa do investimento.
Coisa que o Ministério Público paulista confirmou e o federal investiga sob sigilo, para não permitir que os investigados se previnam. Aliás, será necessário fazer uma lei que puna também esportivamente o clube que se valer de dinheiro sujo para conquistar títulos.
Árbitros erram, bandeirinhas erram, tanto quanto goleiros, centroavantes e jornalistas.
Mas ninguém desperta tamanha desconfiança como os árbitros, graças aos Ivens Mendes e Armandos Marques da vida, graças aos Ricos Terra (a coluna está saudosista, hoje) que até admitem falar em profissionalização das arbitragens, mas correm feito o diabo da cruz de discutir a autonomia dos departamentos de árbitros, sem a qual não adiantará profissionalizá-los.
Porque se pela taxa de arbitragem os apitadores já fazem o que fazem em sua subserviência, imagine se forem assalariados de quem os escala.
Máfia da Loteria Esportiva, em 1982 (quando até dos jogadores se desconfiava), esquemas Parmalat, Ivens Mendes, caso Armando Marques/Loebeling, CPIs do Futebol, da CBF/Nike, MSI/Bóris Berezovski, escândalo dos árbitros no Paraná, caso Edílson, e outros menos votados, quem há de acreditar que Belmiro da Silva errou sem querer no jogo Paysandu x Corinthians, mesmo que a falha no primeiro gol corintiano tenha sido daquelas que a Fifa avaliza? Fifa que promove a Copa do Mundo e que faz o que fez com a Itália em 2002?

Pecados
Nada justifica tirar Gustavo Nery e Ricardinho da reta final pelo título do Brasileirão e por uma vaga na Libertadores. Como não se justifica que os dois Alex (do PSV e do Fenerbahce) fiquem fora de mais uma convocação da seleção. Os acertos com Edmílson e Fred não compensam os erros, principalmente porque os amistosos servem apenas para fazer caixa na CBF.

Silêncio
O ministro do Esporte, que será candidato nas próximas eleições ao contrário do que se comprometeu com Lula, permanece mudo diante das crises no futebol e no basquete. Mas a agenda de Agnelo Queiroz revela encontros com Onaireves Moura, Eurico Miranda, Ricardo Teixeira, uma beleza!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/