As notícias falsas do futebol - Admirável gado novo
POR JOSÉ LUIZ PORTELLA
POR JOSÉ LUIZ PORTELLA
São muitas as fake news. E levam o torcedor para o campo da ilusão e discussão de questões menos importantes, em detrimento do que interessa, como o calendário e a administração da CBF. O poder das federações e o aprimoramento da arbitragem, sobretudo do protocolo brasileiro do VAR.
A CBF está desmoralizando o VAR, assim como Millôr Fernandes disse que certo prefeito do Rio desmoralizou a honestidade. Um objetivo positivo é destruído por uma má gestão do processo.
TEORIAS PELO RESULTADO
Se Rodrigo Nestor tivesse acertado a bola que Pablo atrasou no primeiro tempo de Palmeiras x São Paulo, que Nestor tirou de Weverton e bateu um pouco por cima, ou se Pablo houvesse feito o gol no segundo tempo, poucos minutos antes do gol de Dudu, o jogo teria mudado; o Palmeiras começaria a pensar no inferno astral dos pênaltis ou na iminência de um segundo gol, toda narrativa do jogo até ali, mudaria, e as virtudes de Hernán Crespo seriam exaltadas e os erros de Abel Ferreira denunciados. Como não ocorreu, fez-se o inverso. O que foi bom do lado perdedor é esquecido, quase completamente, e surgem táticas(o taticismo) e "insights"( pontos de discernimento) do técnico vencedor, como fatores determinantes de uma vitória, que um lance, inverteria tudo.
Essas análises, temperadas pela pandemia, que coloca quase todos os analistas trabalhando em casa, e no conforto do lar, a simplificar ainda mais as opiniões, dão ao futebol um falso cientificismo para ser mais erudito e elegante.
Uma graça do futebol é a imprevisibilidade e Tostão já falou: tática na forma crucial como analistas desfiam é a formação que o time ostenta, por vezes, no início do jogo; tem a sua função, mas, não tanto; e uma modificação errada de um treinador pode dar certo e o cara fazer o gol da vitória, aí vira bestial; ou fazer algo certo e o jogador cometer um erro, vira besta, sem sê-lo.
O ERRO PELO MODELO
Criticam o VAR, em vez de atacar a forma como ele é utilizado. Qualquer ferramenta que vise ao aperfeiçoamento, mal usada, pode ter o efeito contrário.
A direção da arbitragem no futebol brasileiro é um desastre criticado aquém do prejuízo que causa.
E quando o responsável é levado aos programas de TV, geralmente quando há um caso polêmico, uma consequência, não se discutem as causas, e o convidado ilustre é tratado com lassidão e tolerância, com aquele ar bondoso e acolhedor, tradição de um Brasil que se finge afável, mas bate recordes de violência fútil.
AUTORIDADE EM VEZ DE TÉCNICA E JOGO
Os árbitros primam pelo respeito dos jogadores a eles. Está ok, se não contivesse uma farsa que é, muitas vezes, deixar passar jogadas violentas, o antijogo, sobretudo, cotoveladas, na linha "não foi nada" de muitos ex-juízes , comentaristas de TV, e do dano maior, que é deixar que os times roubem minutos excessivos de tempo de jogo. Demoram na cobrança de faltas, fazem um teatro a cada cobrança de escanteio, advertindo pela décima vez aquilo que está na regra e deveriam aplicar, não roubar do tempo do jogo com surtos disciplinares midiáticos.
Perdemos tempo de futebol para o protagonismo do árbitro e sua tolerância leniente com o jogo não jogado. A malandragem brasileira da simulação e retardamento. E inclui no retardamento, não descontar tempo depois que o jogo está nos acréscimos. É o desconto sem desconto. Tempo livre para matar o tempo.
O QUE É PELO QUE DEVE SER
SAF, Liga são instrumentos para melhoria do futebol. Dependendo de quem os comanda. São meios e não fins.
Estimulada a Liga muita gente saiu contando a possibilidade ilusória dos dirigentes de plantão dos clubes construírem algo sólido e profícuo para o futebol. Logo se amoitaram num acoelhamento que é característico da maioria, tangidos pelo costume de subordinação à CBF, que não difere em nada do que ocorre com políticos e autoridades diante do poder de fato. Ninguém conhecia o estilo comportamental de Rogério Caboclo, não só com relação ao sexo feminino?
Houve quem se calasse subserviente ao ex-presidente que teve um arroubo de fúria sem base, com aquele despreparo intelectual que o notabiliza. Calar é consentir. Ou dar uma esperto para ganhar créditos?
A SAF é uma ferramenta muito boa, um tanto incensada demais como solução e não "possibilidade de", mas fora do contexto do desejo dos dirigentes, que preferem o regime autocrático feudal de posse de território.
PATROCÍNIO X INTERESSE
Quem patrocina com 70, 80 milhões, no começo do patrocínio, o que poderia fazer com sucesso e reconhecimento, na época, por 40 milhões, está patrocinando ou cevando caminho para assumir o poder?
"Me engana que eu gosto".
Os ingênuos se juntaram aos nada-ingênuos, mas candidatos às benesses e prebendas, que fingiram ser um patrocínio, o que era um "investimento" pessoal, uma espécie de plano de carreira, ousaram criar a lenda do "patrocínio mecênico". Assim como existem muitos ricos doadores "anônimos", que deixam vazar para a opinião pública seu "anonimato", e restam docemente constrangidos.
Há uma fake news? Talvez. Apropriação em vez de patrocínio? Talvez.
Quem pariu Mateus, que o embale. Embora o prejuízo seja mais amplo.
As fake news invadiram o futebol e a maioria segue cordato, como diz Zé Ramalho: " E ver que toda essa engrenagem já sente a ferrugem lhe comer".
"Povo marcado, povo feliz". Admirável gado de sempre.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/