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Blog do Juca Kfouri

O maior ladrão do futebol

Juca Kfouri

19/07/2021 08h50

POR JOSÉ LUIZ PORTELLA

Em geral, o torcedor está enredado naquela história: Foi pênalti, não foi pênalti. A bola bateu no braço ou ele aumentou a extensão do corpo, foi braço de apoio.

Que, com todas as explicações têm interpretações diversas, conforme a fonte, o que gera a discussão natural de bar ou por internet, que acalenta o futebol. E as mesas, outrora redondas, hoje, virtuais, onde as barbas e bigodes se instalaram com a preguiça instalada pelo trabalho em casa da pandemia.

Porém duas coisas passam despercebidas: o erro do VAR no jogo Cerro x Fluminense e o tempo de jogo.

O primeiro leva à boa discussão se foi erro de fato ou de direito. Erros de interpretação humana são erros de fato. Um árbitro pode não ver um pênalti escandaloso, mas isso não anula uma partida: ele interpretou errado. Faz parte do jogo.

Todavia, a luta pela introdução do VAR foi calcada na diminuição dos erros de interpretação e consequente maior justiça no futebol. O vídeo-tape é burro de Nelson Rodrigues ficou para trás.

Se você introduz um aparelho, que no caso do impedimento mensura linhas de posicionamento e contra o resultado nenhum juiz pode se opor, criou-se um sistema que não interpreta, sentencia, de modo que passa a ser lei. Se uma bola entra por fora (rede rasgada) e o juiz não vê, cabe reclamação por erro de direito. No caso, se aplicaria também ao VAR do jogo que prejudicou totalmente o Cerro Porteño . A partida deveria ser anulada? Boa discussão, mas a Conmebol, na sua infinita incompetência, e, preocupada só com datas e grana, não com justiça, reconhece o erro, mas não faz nada.

EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO

Contudo, o maior ladrão que existe no futebol é o roubo do tempo de jogo, que tem aumentado drasticamente em nosso Brasileirão, e que a fluidez da Eurocopa, nos deixou "pelados com a maré baixa" como diz Warren Buffet.

A FIFA considera bom 60% de bola rolando, acho pouco, para quem pagou por 90 minutos e passa os dias esperando o time do coração jogar. A vida é emoção.

Há jogos no Brasileirão com 43% de bola rolando e não são tão escassos assim.

Cada falta com barreira leva mais de um minuto para cobrança, cada escanteio, o árbitro dá uma palestra para explicar aos jogadores aquilo que deveriam saber pela regra. É uma pantomima.

Laterais demoram, jogadores caem ao chão ao menor contato e ficam se contorcendo, mania brasileira de hipocrisia, estimulada pela malandragem de ganhar tempo.

E o tempo para conferência do VAR? Minutos atrozes. Tira a graça da emoção. Gritar gol depois de 4 minutos é o anticlímax. 

E quando o juiz para um ataque para socorrer um atleta lá na outra metade do campo que se jogou?

A alma brasileira ligada à pornochanchada e à hipocrisia esperta se revelam sem que a CBF e o Guaciba (departamento de árbitros, o juiz que não tinha prepara físico e agora mostra falta de preparo gerencial), se manifestem.

Temos quase um meio jogo, dentro do jogo. Nós pagamos, a TV paga, os patrocinadores pagam, para um teatro do absurdo batizado pelo húngaro Martin Esslin para tratar da atmosfera de desolação, solidão e incomunicabilidade do pós-guerra, celebrizado por Samuel Beckett.

É o futebol do absurdo celebrado pela trôpega e temulenta CBF e com aval de Guaciba.

Aceitamos isso de forma absurda e continuamos Esperando Godot, que não vem.

ABEL ACERTOU

É preciso reconhecer quando o técnico criticado acerta. Abel não foi ótimo na escalação, mas devido ao difícil jogo a seguir com a Universidad Católica e saber como estão os atletas, isso passa, porém ele ACERTOU em cheio nas substituições, dessa vez.

Criticar não é excluir. É para melhorar. Se ele conseguiu, aplausos para ele. Esperamos que continue assim, como quer nosso palmeirense torcedor Rodrigo Rocha Azevedo, fã de Abel.

Ninguém quer tirar Abel, se quer aprimorar. Um erro achar que qualquer crítica é destruição, um "Delenda est Cartago". E ficar no 8 ou 80, "besta ou bestial". Todos nós erramos, e acertamos. É preciso aperfeiçoar.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/