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Blog do Juca Kfouri

Enfim, torcida brasileira tem canto!

Juca Kfouri

21/06/2018 12h31

POR HUMBERTO MIRANDA*

O movimento revolucionário que a Seleção Brasileira precisa é usar o poder da criação de seu torcedor. A chegada do time em  São Petersburgo recibido com uma canção de arquibancada foi sensacional. É isso que torna o torcedor o camisa 12 e substitui essa coisa chata e insana de redes sociais, memes e principalmente o anacrônico canto "eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor" (e daí?), que tirava o tesão de qualquer time.

Empolga até o mais velho torcedor de futebol essa reconexão entre time e torcida, sem as patriotadas e os pachequismos infantis. Os jogadores perceberam uma energia muito diferente e que vai além da cobrança de performances de fulano e sicrano, apesar de beltrano.

A torcida passa a semear sentimentos mais genuínos do futebolista. O novo canto tem coisas muito especiais. Vejamos:

"Em cinco oito [58] foi Pelé, em meia dois [62]  foi o Mané. Em sete zero [70] esquadrão, primeiro a ser tricampeão. Oooooô, 94 Romáriô, 2002 Fenomenô. . .  primeiro tetracampeão, único pentacampeão. Ooooô, Brasil olê, olê, olê. Brasil…"

O canto conecta o time com sua história, traz lembranças de jogadores geniais (Pelé, Mané) e de times memoráveis (esquadrão), além de reverenciar os craques diferenciados (Romário e Ronaldo) e usar o empolgante olê, olê, olê, marca registrada do sentido coletivo que animou a vida nacional em inúmeros momentos.

Esta é a Seleção Brasileira que precisa ser resgatada pelo seu povo, a que lhe dá alegrias e que reconstrói os espaços de união, sociabilidade e de solidariedade. Um país que luta para dar certo, sem parreirismo.

Como diz a letra "Poder da criação", do sambista João Nogueira:  " E o poeta [torcedor es /jogadores ] se deixa levar por essa magia. E um verso vem vindo e vem vindo uma melodia. E o povo começa a cantar…"

Cresce a vontade de torcer aliada à vontade de ser feliz de novo. Finalmente!

*Humberto Miranda é professor de Economia na UNICAMP.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/