É hora de dar as mãos
Enquanto transcorria, no Rio, o velório de Marielle Franco, Michel Temer brincava com uma bola de basquete em solenidade, em Brasília.
Antes de começar o ato, ele pediu um minuto de silêncio.
Pouco depois, sorria sem pudor.
A verdadeira dor, contudo, se espraiava pelo país.
Mais uma mulher negra e pobre estava morta em execução sumária.
Poderia ter sido em São Paulo, Minas, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul ou do Norte, em qualquer lugar do Brasil.
Desta vez os executores erraram demais a mão, porque assassinaram uma vereadora eleita por quase 50 mil pessoas.
E o país a elegeu imediatamente como símbolo da barbárie da democracia golpeada para que os privilégios de mais de 500 anos se perpetuem.
Marielle era uma lutadora pela igualdade, pelos Direitos Humanos que bestas feras insistem em menosprezar.
Matar aqui é fácil.
Algumas mortes, porém, têm o condão de despertar a indignação da Nação e exigir um basta.
Assim foi quando o jornalista Vladimir Herzog foi torturado até a morte nas masmorras da polícia política da ditadura de 1964, em 1975.
Que assim seja também agora.
Ou o Brasil retoma seu destino já — ou o fascismo vencerá e não haverá a quem se queixar.
A grande mão que assassinou Marielle é muito maior que as de seus executores.
Não é a mão que enterra uma bola na cesta ou salva um gol decisivo.
É a mão que encerra o sonho de construirmos um país livre e justo.
São as nossas, sem o sangue dos inocentes, que podem levar tal missão adiante.
Mãos à obra!
Desesperar jamais.
Comentário para o Jornal da CBN desta sexta-feira, 16 de março de 2018.
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