Federação Mineira de Futebol é banco para família e aliados
A família que foi expulsa da FMF por formação de quadrilha, falsificação de documentos e apropriação indébita está de volta.
Agora com mais poder ainda, porque dá as cartas na FMF e na CBF.
POR LUCAS RAGAZZI, do jornal "O Tempo", de Belo Horizonte
Uma dinastia já condenada pela Justiça e que reinou por décadas na Federação Mineira de Futebol (FMF) após ser alçada pela ditadura militar está prestes a voltar ao comando da entidade que rege o futebol no Estado, por meio de uma articulação envolvendo o deputado federal Marcelo Aro (PHS-MG). No próximo mês, deve ser confirmada a eleição de Adriano Aro (foto), 37, atual secretário geral da entidade e irmão do parlamentar mineiro.
Até agora candidato único ao cargo, Adriano deve ocupar, a partir de junho de 2018, a vaga a ser deixada pelo atual presidente da FMF, o advogado Castellar Modesto Guimarães Neto. Vice-presidente do PHS de Minas, Castellar tem intenção de se lançar candidato a deputado estadual. A construção de sua candidatura passa diretamente por Marcelo Aro, com quem já negocia a criação de uma "dobradinha": o cartola, para a Assembleia Legislativa de Minas, e Aro, para a reeleição à Câmara Federal.
Marcelo Aro é diretor de Relações Institucionais da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) – cargo, conquistado por indicação do ex-deputado e aliado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso desde outubro de 2016 por denúncias de corrupção.
Os Aros e Castellar, todos de paletó
A entidade nacional é investigada não só pelas autoridades brasileiras, como também pela Interpol e pelo FBI. Na CBF, Aro recebe um salário superior a R$ 50 mil.
A influência do deputado aliado de Cunha na federação mineira não para por aí. Nomeado no gabinete de Marcelo Aro em Brasília, o publicitário Clovis Modesto Mello também presta serviços à FMF. A informação foi confirmada pela entidade. Mello, apesar de não ter vínculo empregatício, atua na assessoria de comunicação da federação. Em redes sociais, ele se coloca como "consultor de marketing" da FMF.
Anos de chumbo. Apesar de não terem qualquer histórico de atuação no meio esportivo antes da FMF, Adriano e Marcelo Aro são da terceira geração de uma família que controlou a federação por quase 40 anos.
O patriarca do grupo, o coronel José Guilherme Ferreira, avô dos Aros, assumiu o comando da federação em 1966, quando atuava como chefe do gabinete militar do então governador de Minas, José de Magalhães Pinto.
Colocado no posto pela ditadura, José Guilherme permaneceu à frente da FMF até 1980, quando, acusado de práticas irregulares e de corrupção, optou por não participar da eleição na entidade. Em seu lugar, lançou um aliado e, como vice, seu próprio filho, Elmer Guilherme, tio de Adriano e Marcelo.
A administração do avô de Marcelo Aro e Adriano Aro na FMF foi polêmica. Opositores o acusavam de utilizar sua influência na Polícia Militar para intimidar as federações do interior.
Em 1972, outra história escabrosa envolvendo a família: durante eleição na FMF, a PM chegou a ocupar a sede da entidade e autorizou, à força, que apenas aliados do coronel entrassem para votar na chapa indicada.
Já o tio Elmer Guilherme assumiu, em 1987, o posto de presidente. Tanto ele quanto José Guilherme Ferreira foram afastados da FMF após serem envolvidos em escândalos de corrupção. A primeira condenação da família veio em 1986: José Guilherme foi condenado por malversação de recursos da federação. Porque era réu primário, ele não cumpriu pena.
Em 2001, durante realização da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do futebol no Senado, Elmer foi acusado dos crimes de formação de quadrilha, falsificação de documentos e apropriação indébita. Meses depois, foi afastado do comando da FMF pela Justiça, e seu vice, o delegado Paulo Schettino, assumiu o comando.
Nepotismo revelado
O principal clube de Minas Gerais é o Nepotismo Futebol Clube". A fala é do senador Álvaro Dias (Pode-PR) e data de 2001, durante realização da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do futebol. Na época, o parlamentar presidia o colegiado e fez a declaração após ouvir o depoimento do então presidente da Federação Mineira de Futebol (FMF), Elmer Guilherme.
Durante a reunião, o dirigente, tio do deputado federal Marcelo Aro (PHS-MG), confessou praticar nepotismo. De fato, a lista de parentes empregados na FMF era longa e, ainda hoje, mantém resquícios.
Atualmente, trabalham na federação pelo menos dois sobrinhos de Elmer Guilherme: o irmão do deputado, Adriano Aro, e um primo do parlamentar, Olavo Guilherme Ferreira.
Após a realização da CPI do futebol, foram descobertos 28 membros da família atuando na entidade – desde cargos na cúpula, como secretário geral e diretores, até as funções de telefonista e ascensorista da FMF.
Contato. A reportagem tentou contato com Castellar Guimarães e Adriano Aro, mas nenhum dos dois atendeu os telefonemas feitos. Marcelo Aro não respondeu aos questionamentos.
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Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/