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Blog do Juca Kfouri

  À tarde, golpe. À noite, uma vitória espetacular

Juca Kfouri

23/03/2017 19h47

Durante a tarde, na sede da Casa Bandida do Futebol, batizada José Maria Marin, que está preso em Nova Iorque, o Marco Polo que não viaja comandou um golpe travestido de assembleia geral.

 Para adaptar o estatuto da notória entidade e dar direito de voto aos clubes da segunda divisão com a lei determina, as 27 federações passaram a ter seus votos com peso três, contra dois dos clubes da primeira divisão e um da segunda.

Assim, as federações juntas têm 81 votos e os clubes 60.

E mais: manteve-se a cláusula de barreira para candidaturas à presidência, com a exigência do apoio de oito federações, o que praticamente impede a candidatura de qualquer um que não faça parte do bando.

É difícil não confundir a Seleção com a Casa Bandida e, embora não se deva mesmo fazer a confusão, é fácil dizer que um castigo foi merecido e veio a cavalo, ou melhor, a Cavani. 

Terá sido um protesto de Marcelo?


Antes de 10 minutos ele se aproveitou da pixotada de Marcelo ao atrasar mal com o peito uma bola para Alisson e sofreu pênalti do goleiro que ele mesmo bateu para fazer 1 a 0.


Um pouco antes, Neymar havia feito uma jogadaça, do campo brasileiro à intemediária uruguaia, e Firmino furado na hora de fazer o gol. 

"Ah, se fosse o Gabriel Jesus!", pensou a torcida brasileira.


Aos 18, quando o Brasil não estava bem, Neymar deu para Paulinho acertar um tirambaço do meio da rua, no ângulo, para "calar os críticos": 1 a 1.

O jogo ficou bom, embora Marcelo destoasse ao errar bolas como não está acostumado.

Cavani infernizava a defesa brasileira e ajudava a uruguaia. 

Ao estilo Tite, o Brasil tinha mais a bola, posse de 76% aos 30 minutos.

Com o diabo no corpo, Neymar enfileirava a zaga oriental e tinha de ser parado com faltas.


Na continuidade de uma delas, Martín Silva, o goleiro do Vasco, salvou a virada nos pés de Casemiro.

O Centenário via o domínio brasileiro no mais das vezes em silêncio.

Dois treinadores éticos, Oscar Tabárez e Tite, possibilitavam um jogo na bola, nada da guerra que, antigamente, caracterizava o clássico sul-americano.

O último susto do primeiro tempo foi uma cabeçada que tirou lasca da trave brasileira.

O 1 a 1 era o retrato do que o ex-quarto zagueiro Juninho, da Seleção, Ponte Preta, Corinthians e Vasco, dizia: "A Seleção sempre que desembarca num país estrangeiro está perdendo de 1 a 0, porque o cartola que desce primeiro do avião é sempre uma lástima".

Como Marco Polo não viaja (daí seria 2 a 0 para os rivais), o primeiro a descer foi o Coronel Nunes…

É dose!

O risco para o Brasil no segundo tempo era o mesmo do primeiro: bola alçada na área.

Marcelo, aos 3 minutos, pisou nas costas de um adversário e merecia ser expulso.


Aos 6, Firmino chutou forte, Martín Silva largou e o rebote sobrou para Paulinho virar o jogo.

Nunca mais este blogueiro dirá que Paulinho não merece a Seleção.

O Brasil. começou a fazer faltas desnecessárias nas imediações da área, a primeira de Marcelo, a outra de Daniel Alves, ambas com Marquinhos na bola.

A Seleção sofria e esperava a chance de um contra-ataque.

Que veio aos 29, com um chutão de Miranda que pegou Neymar na frente para encobrir Martín Silva com a categoria que trouxe do berço. Outro golaço!


Definitivamente, a CBF não merece a Seleção.

De quebra, aos 46, Daniel Alves pôs no peito dele, de Paulinho, para fazer seu terceiro gol, o do 4 a 1!

Espetacular!

NOTAS:

Alísson foi bem: 7,5

Daniel Alves jogou menos do que pode: 5,5

Miranda vacilou no começo e firmou-se: 6,5

Marquinhos foi o melhor da defesa: 7

Marcelo foi o pior em campo: 3

Casemiro esteve firme, mas discreto: 6,5

Paulinho foi o nome do jogo: 9

Renato Augusto desapareceu: 5,5

Phillippe Coutinho se movimentou muito: 6

Firmino ficou devendo, mas causou o segundo gol: 6

Neymar é Neymar: 8

Fernandinho, Diego Souza e William entraram no fim: sem notas

Tite completou sua sétima vitória consecutiva nas eliminatórias: 8,5.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/