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Blog do Juca Kfouri

A PM assusta uma criança de 9 anos, uma mulher grávida, um monte de gente que deveria proteger na saída da Arena Corinthians

Juca Kfouri

19/03/2016 21h07

POR CÁSSIO BRANDÃO*

Esse aí da foto é o Pedro Rodriguez. O Pepê.


Na foto, estamos na estação de trem indo para a Arena Corinthians.

O Pepê, posso garantir, é a criança de 9 anos mais corinthiana que existe. Posso garantir. Ele é apaixonado por futebol, conhecedor de todos os nossos jogadores e dos times da Champions, fera no PlayStation.

Jogo tranquilo, Linense, sábado a tarde. Ele, o pai dele, um primo querido e eu. 4×0. Romero fez dois.

Saindo da arena ele me lembrou que é pé quente – nosso último jogo juntos foi aquele eterno 6×1 em cima do time do Morumbi.

Estamos descendo calmamente a rua, quando explode a primeira bomba.

Segunda.

Terceira, quarta, quinta.

Correria. Pessoas correndo para todos os cantos. Crianças começam a chorar, uma mulher grávida do meu lado se desespera.

Incontáveis bombas explodem, gás começa a irritar os olhos, Pepê aperta a minha mão e diz:
– Por favor, Tio Cassio, me tira daqui!

Eu tento tranquiliza-lo, digo que já vamos chegar no metrô.

Mais bombas.

Quando o Pepê reforça:

– Eu estou com muito medo, Tio Cassio, me tira daqui!

Somos tratados como gado no futebol brasileiro. Você sabe bem. Frequento estádios desde 1989 e já corri da polícia algumas vezes, já fugi de cavalos e bombas. Nunca, por ter incitado algo.

O que a PM fez hoje já aconteceu outras vezes comigo – mas não tinha acontecido com ele, na idade mais mágica pra se apaixonar por esse esporte que nos trata tão mal.

Não quero politizar a questão aqui – mas foi um abuso injustificável da PM, um excesso que não dá pra compreender!

Represália à torcida organizada que vem protestando e que já tinha apanhado na última quarta-feira (onde também tive que correr de uma bomba na saída).

Represália de quem deveriam me proteger. De quem deveria proteger o Pepê!
Foi triste! A fragilidade que uma situação como essa nos coloca é assustadora!
Estamos bem, nada nos aconteceu. E espero que não tenha acontecido nada de grave com ninguém.
Mas o que eu queria mesmo era que o Pepê esquecesse aquele pequeno momento de terror onde apertou minha mão.

Pra continuar sendo pé quente. Pra continuar amando o futebol e o Corinthians. Pra que daqui alguns anos, 15, 20 anos, não sei, ele não precise apertar a mão do filho dele.

Pra que ele nunca precise correr de bombas ao sair de um estádio de futebol.

*Cássio Brandao, publicitário, homenageou seu maior ídolo, Basílio, dando o nome a seu cão Pug de 4 anos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/