A PM assusta uma criança de 9 anos, uma mulher grávida, um monte de gente que deveria proteger na saída da Arena Corinthians
POR CÁSSIO BRANDÃO*
Esse aí da foto é o Pedro Rodriguez. O Pepê.
Na foto, estamos na estação de trem indo para a Arena Corinthians.
O Pepê, posso garantir, é a criança de 9 anos mais corinthiana que existe. Posso garantir. Ele é apaixonado por futebol, conhecedor de todos os nossos jogadores e dos times da Champions, fera no PlayStation.
Jogo tranquilo, Linense, sábado a tarde. Ele, o pai dele, um primo querido e eu. 4×0. Romero fez dois.
Saindo da arena ele me lembrou que é pé quente – nosso último jogo juntos foi aquele eterno 6×1 em cima do time do Morumbi.
Estamos descendo calmamente a rua, quando explode a primeira bomba.
Segunda.
Terceira, quarta, quinta.
Correria. Pessoas correndo para todos os cantos. Crianças começam a chorar, uma mulher grávida do meu lado se desespera.
Incontáveis bombas explodem, gás começa a irritar os olhos, Pepê aperta a minha mão e diz:
– Por favor, Tio Cassio, me tira daqui!
Eu tento tranquiliza-lo, digo que já vamos chegar no metrô.
Mais bombas.
Quando o Pepê reforça:
– Eu estou com muito medo, Tio Cassio, me tira daqui!
Somos tratados como gado no futebol brasileiro. Você sabe bem. Frequento estádios desde 1989 e já corri da polícia algumas vezes, já fugi de cavalos e bombas. Nunca, por ter incitado algo.
O que a PM fez hoje já aconteceu outras vezes comigo – mas não tinha acontecido com ele, na idade mais mágica pra se apaixonar por esse esporte que nos trata tão mal.
Não quero politizar a questão aqui – mas foi um abuso injustificável da PM, um excesso que não dá pra compreender!
Represália à torcida organizada que vem protestando e que já tinha apanhado na última quarta-feira (onde também tive que correr de uma bomba na saída).
Represália de quem deveriam me proteger. De quem deveria proteger o Pepê!
Foi triste! A fragilidade que uma situação como essa nos coloca é assustadora!
Estamos bem, nada nos aconteceu. E espero que não tenha acontecido nada de grave com ninguém.
Mas o que eu queria mesmo era que o Pepê esquecesse aquele pequeno momento de terror onde apertou minha mão.
Pra continuar sendo pé quente. Pra continuar amando o futebol e o Corinthians. Pra que daqui alguns anos, 15, 20 anos, não sei, ele não precise apertar a mão do filho dele.
Pra que ele nunca precise correr de bombas ao sair de um estádio de futebol.
*Cássio Brandao, publicitário, homenageou seu maior ídolo, Basílio, dando o nome a seu cão Pug de 4 anos.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/