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Blog do Juca Kfouri

Zyka vírus e Copa das Confederações

Juca Kfouri

01/12/2015 13h08

Por ROBERTO VIEIRA

A Copa do Mundo é um evento fabuloso que reúne pessoas, bactérias e vírus de todo o planeta numa festa de cores e gols. Turistas transportam sua paixão pelo futebol e suas doenças, assim como os primeiros colonizadores na história universal.

Durante milênios o intercâmbio de culturas, mazelas e doenças já existia mesmo sem a bola rolando. Os mosquitos africanos se banhando em solo brasileiro após a viagem nos navios negreiros, os treponemas americanos navegando em águas europeias, a peste negra dizimando povos e crenças.

A história do homem também pode ser narrada pelo turismo dos micro-organismos. Esta verdade é incontestável para os homens de ciência faz tempo. De tal forma que a gente se assusta com as declarações de nossas autoridades nos últimos dias.

O governo de Pernambuco e do Brasil anuncia esta semana a guerra contra o Zyka vírus.

Parece legal.

A gente chega a se sentir seguro, né?

Mas vamos observar as palavras do Ministro da Saúde, Marcelo Costa sobre a situação:

'Reconheço que nos últimos anos não vínhamos combatendo o mosquito para vencer e por isso estamos perdendo'.

Marcelo Costa deveria permanecer quieto e trabalhando. Porque vírus e bactérias não se combate para perder. Vírus e bactérias são tão fortes como húngaros na Copa de 1954 e holandeses na Copa de 1974. Eles só podem ser derrotados com um esforço imenso de corpos e mentes em campo.

Querem fatos?

Pois bem.

Enquanto nosso governo combatia vírus para perder, trinta e oito casos da Síndrome de Guillain-Barre eram registrados na Polinésia Francesa entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014. Todos estes casos estavam ligados ao Zyka vírus.

O vírus infectou 28 mil pessoas na Polinésia Francesa neste período.

O número corresponde a 11% da população local.

O alerta foi então decretado pelo ECDC ( Centro Europeu Para Prevenção e Controle de Doenças).

Enquanto isso, as autoridades brasileiras jogavam pra perder contra o Aedes, segundo o Ministro da Saúde.

O problema, caro Ministro, é que o Zyka e seus colegas de time jogam no erro do adversário. Descoberto em macacos de Uganda na década de 40, o Zyka atingiu o primeiro ser humano quinze anos depois, em 1962. Parecia adormecido, mas chegou na Indonésia em 1977 com sete casos reconhecidos. Silêncio e vinte anos depois atingia a Micronésia, Senegal e Camboja. Mais um pulo e estava no Japão.

O que era curiosidade científica virou epidemia na Polinésia.

O que tem o futebol a ver com tudo isso?

Bem, fora a analogia com nossas autoridades jogando pra perder um campeonato da vida que deve ser jogado sempre para vencer, existe outro fato corriqueiro, banal, singelo.

Um ano antes da Copa do Mundo se joga a Copa das Confederações. É um evento teste para avaliar as reais condições do país que vai sediar a Copa. Verificar como estão as instalações esportivas, a hotelaria e a malha de transportes.

2013 foi o ano da Copa das Confederações no Brasil.

Por um acaso do futebol, uma das seleções classificadas era fraca de dar dó. Era uma equipe simpática, mas que apanhou feio de todo mundo. Levou de 6×1 da Nigéria, de 8×0 pro Uruguai e de 10×0 da Espanha. Independente das goleadas, deixou saudade na torcida brasileira pelo fair play e inocência.

Tal seleção era o Taiti, campeão da Oceania e representante da Polinésia Francesa nas competições oficiais da FIFA.

Polinésia Francesa que estava prestes a enfrentar uma epidemia do Zyka vírus.

Uma das cidades onde jogou o Taiti foi Recife…

  

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/