Coisas do Brasil
POR ERICH BETING*
Por final de semana, em média, São Paulo abriga cinco provas de corrida de rua em diferentes pontos da cidade.
Segundo dados da Federação Paulista de Atletismo, só em 2014 foram 598 provas realizadas na cidade.
Cuidar de tanta prova exigiu dos órgãos públicos da cidade uma certa especialização nesse tema.
E, logicamente, uma considerável burocracia que deve ser preenchida pelos organizadores de prova.
O protocolo normal para fazer uma prova acontecer exige, primeiro, a aprovação pela Secretaria Municipal de Esportes (SEME).
Em conjunto com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), os dois órgãos aprovam o percurso e, posteriormente, dão o aval para a prova ser inserida no calendário da cidade.
Em agosto de 2014, antes mesmo de fazer a primeira edição da Timão Run Caixa, a corrida de rua do Corinthians, já havíamos entrado com o pedido para que a edição de 2015 fosse realizada no dia 20 de novembro do ano seguinte no entorno da Arena Corinthians, em Itaquera.
Após termos a aprovação dos dois órgãos, fomos atrás do pagamento das demais taxas necessárias para ter a prova oficializada no circuito.
A começar pela taxa pública para abrir o processo burocrático para fazer a prova o festival de papéis necessários forma um compêndio de 120 páginas.
Há taxas a serem pagas à Federação Paulista de Atletismo, ao CET, os seguros de responsabilidade civil e de acidentes pessoais, os projetos arquitetônicos e exigências do corpo de bombeiros, o ECAD para poder tocar músicas para os atletas no dia da prova e, por fim, a taxa de permissão de uso do solo de Itaquera, bairro onde acontece a Timão Run.
Há uma semana, com mais de 3 mil inscritos, fomos surpreendidos com informação da subprefeitura de Itaquera de que o processo aberto no órgão para ter a permissão de uso da rua para fazer a prova havia se "perdido" dentro da burocracia do local.
Ao mesmo tempo, o Corinthians recebeu uma ligação do mesmo órgão, ameaçando-o de multa caso a prova fosse realizada.
A pedido do subprefeito de Itaquera, Mauricio Luis Martins, reabrimos o processo e recolhemos novamente a taxa pública de R$ 692 para obter o alvará de uso do solo da região.
Após atender todas as exigências documentais, o sr. Alexandre Massola Tavares, coordenador de planejamento e desenvolvimento urbano da subprefeitura, informou que só poderia liberar algum documento após a Secretaria de Licenciamento emitir um parecer.
Nesta terça-feira, apresentamos à subprefeitura o documento constando a liberação da Secretaria de Licenciamento, que autorizava a assinatura da subprefeitura de Itaquera para realizar a prova.
Confrontado com o documento, o subprefeito afirmou que não assinaria nenhuma autorização, ameaçando enviar a polícia militar para impedir a realização da prova na próxima sexta-feira, dia seguinte à possível conquista do hexacampeonato nacional pelo Corinthians.
É curioso notar que a atitude do subprefeito contrasta com tudo o que a gestão de Fernando Haddad tem se esforçado para melhorar o convívio das pessoas na cidade.
Haddad tem feito com que São Paulo abra cada vez mais seus espaços públicos para os pedestres, adotando política que obteve muito sucesso em grandes metrópoles.
Mauricio Luis Martins, por outro lado, quer evitar que 4 mil pessoas possam correr pelas ruas de Itaquera, na terceira corrida de rua da história da região.
Deve ser por isso que, em mais de 170 provas que estão no calendário de São Paulo neste 2015, somente duas aconteçam em Itaquera.
*Erich Beting é jornalista, blogueiro do UOL e um dos organizadores da Timão Run.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/