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Blog do Juca Kfouri

O discurso de Dida em nome do Bom Senso FC

Juca Kfouri

19/03/2015 11h51

Senhoras e senhores.

 

 

Eu, em nome do Bom Senso Futebol Clube e de todos os brasileiros apaixonados por futebol, gostaria de reconhecer o fundamental papel do Governo Federal, da presidenta Dilma Rousseff, que a partir do Grupo Interministerial de Trabalho, capitaneado pelo ministro do Esporte, George Hilton, com apoio de Edinho Silva, permitiu a construção democrática desta Medida Provisória que será, sem dúvida, um divisor de águas para o futebol brasileiro. Agradeço também o trabalho da Casa Civil, do ministro Aloizio Mercadante, do subchefe de Assuntos Jurídicos, Ivo Correa, e do subchefe adjunto, César Carrijo, e do consultor do Ministério do Esporte  Pitágoras Dytz.

Eu, que estive em duas reuniões com a Presidenta da República para tratar das mazelas do futebol nacional e apresentar as propostas do nosso movimento, reconheço o seu comprometimento e a sua importante decisão de defender estas medidas fundamentais. 

 

Dentre elas, a exigência de contrapartidas claras de transparência e de boa governança na gestão dos clubes e das entidades de administração do desporto, para dar um fim aos desmandos e as más gestões que permeiam e atrasam, há décadas, um dos nossos maiores patrimônios culturais, o futebol. 

 

Com essas medidas podemos iniciar um novo ciclo virtuoso de retomada e de desenvolvimento deste esporte que, além de mexer com a paixão e o orgulho do povo, movimenta bilhões de reais para a economia brasileira.

 

Reconheço também o Congresso Nacional, que foi o local de tantas reuniões e audiências públicas, em especial as figuras do deputado Otávio Leite e do senador Romário, que nos abriram as portas em Brasília e acolheram as nossas ideias e intenções. Reconhecemos as contribuições do parlamento e esperamos a aprovação da MP em definitivo.

 

Agradecemos a postura e a integridade do presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, que contribuiu para chegarmos até o presente acordo.

 

Reconhecemos os profissionais do esporte, como os membros da Universidade do Futebol, que com seus estudos e pesquisas nos forneceram todo o suporte e conhecimento necessários para que fomentássemos a discussão de um novo modelo de gestão do futebol nacional.

 

Quero agradecer e reconhecer a coragem dos meus colegas jogadores profissionais de futebol, assim como as meninas do futebol feminino, que através da sua união no Bom Senso Futebol Clube, foram determinantes para a existência e o aprimoramento desta Medida Provisória. Registro a presença da jogadora Carla Índia, que hoje junto comigo representa os atletas nesta solenidade.

 

No segundo semestre de 2013, nós jogadores fizemos história com as manifestações em campo, não apenas para reclamar nossos direitos trabalhistas, mas para defender e proteger o futebol brasileiro que claramente perdia seu rumo e sua dignidade devido à má gestão, a impunidade e a um sistema político esportivo fadado ao fracasso. Cruzamos os braços e sentamos no gramado clamando e esperando por mudanças profundas no futebol brasileiro, como a questão do calendário e do fair play financeiro.

 

Fomos duramente contestados pelos dirigentes. Fomos rejeitados pela CBF, já que nunca tivemos voz ou direito a voto dentro da entidade. As críticas vinham daqueles que se beneficiam do sistema ainda vigente. É verdade que atletas foram ameaçados, retaliados e até perderam seus empregos, mas continuaram firme na defesa de seus ideiais e na certeza de estarem lutando por um futebol mais justo e mais democrático.

 

O choque produzido pelos 7×1 não pôde ser apenas explicado por um apagão momentâneo. A percepção de que todo o modelo brasileiro de futebol deveria ser revisto e rediscutido fez com que as propostas e a visão do Bom Senso voltassem à tona. A partir daí, muitos reconheceram a legitimidade e a importância da existência do Bom Senso no cenário esportivo brasileiro.

 

Ao contrário do que diz o senso comum, por trás do brilho dos holofotes dos grandes clubes e dos craques brasileiros, há um cenário perverso que raramente é retratado pela grande mídia. 

 

85% dos atletas profissionais de futebol recebem somente até dois salários mínimos por mês, 70% dos 18 mil atletas profissionais registrados na CBF ficam desempregados ou sem atividade por pelo menos 6 meses por ano. A inadimplência e as dívidas trabalhistas dos clubes não param de crescer devido à irresponsabilidade e à impunidade de seus dirigentes.

 

Esse conjunto de fatores fez com que o Brasil deixasse de ser o país do futebol, uma fábrica de talentos, para se tornar uma grande fábrica de frustrações.

 

É por esta e tantas outras razões que defendemos e apoiamos a MP lançada hoje. Reafirmamos que o sucesso desta MP passa pela garantia de que os gestores e os responsáveis pelas entidades de administração do futebol – a CBF e as Federações – e as entidades de prática do futebol – os clubes – sejam efetivamente punidos caso cometam gestão temerária. O Brasil não admite mais que isso aconteça.  

 

Definir claramente quem fará a fiscalização, o acompanhamento, a aplicação e o cumprimento das Leis e dos Regulamentos inseridos nesta medida provisória é fundamental para que alcancemos o sucesso esperado.

 

Queremos fortalecer o futebol e os clubes brasileiros, melhorar a qualidade do espetáculo e aumentar o público nos estádios. Queremos um calendário mais equilibrado para que os times pequenos possam ser autossuficientes e para que os jogadores tenham maior estabilidade em seus empregos. Isto resultará no incremento da audiência nacional e internacional do futebol brasileiro, valorizará as cotas de patrocínio e as verbas de televisão, aumentará a arrecadação dos clubes e permitirá que a gente mantenha nossos ídolos por mais tempo aqui no Brasil. 

 

Para que tudo isso aconteça é importante entender que apenas o talento não basta. Precisamos entender que o futebol é um negócio e sua gestão deve ser séria e transparente. 

 

Com a mesma disposição que tivemos até aqui, voltaremos ao Congresso Nacional. As próximas partidas serão jogadas lá e precisamos fazer seis pontos, vencer na Câmara e no Senado, para garantir esse conjunto de avanços para o nosso futebol.

 

Que o dia de hoje e o dia da futura aprovação da Medida Provisória no Congresso sejam marcos da reação do futebol brasileiro.

 

Por um futebol melhor para quem joga, para quem apita, para quem torce, para quem transmite, para quem patrocina.

 

Por um futebol melhor para todos.

 

Muito obrigado.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/