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Blog do Juca Kfouri

Armênio Guedes, um brasileiro inesquecível

Juca Kfouri

12/03/2015 15h12

 

Morreu nesta madrugada Armênio Guedes, aos 96 anos.

Morreu certamente pensando em política, generosamente.

Sobre ele há um belo livro, de Sandro Vaia — Armênio Guedes – Sereno Guerreiro da Liberdade, assim como, entre outros depoimentos encontráveis no Youtube, uma belíssima entrevista no "Roda Viva".

 Numa manhã de domingo no começo dos anos 80, Lei da Anistia já em vigor, exilados como ele de volta ao Brasil, cerca de 40 jornalistas do velho PCB reunidos num congresso ainda clandestino, receberam a notícia de que haveria uma surpresa naquele dia de encerramento das atividades.

Em seguida, no subsolo de um casarão em algum lugar em São Paulo ou perto de São Paulo, surge uma figura magra, pequena, de olhos azuis que mais pareciam dois sóis.

Em vez de se sentar na cadeira destinada a ele, senta-se sobre a mesa, coça os olhos para poder ver melhor naquele lusco-fusco do subterrâneo, e exclama: 

"Poxa vida! O que um bando de jovens está fazendo aqui numa manhã tão bonita? Vocês não tinham nada melhor para fazer?"

Assim, em meio a uma gargalhada ampla, geral e irrestrita, Armênio Guedes se apresentava a todos para, em seguida, fazer uma palestra iluminadora sobre os valores da Democracia e sua experiência como militante político que rompeu com quaisquer resquícios do stalinismo.

O baiano Armênio Guedes viveu quase um século, ouvindo o que há de melhor na música, jazz particularmente, torcendo pelo Botafogo e curtindo cada instante da vida sempre em busca das melhores soluções, sem ódio e sem medo.

Ainda 11 dias atrás, já hospitalizado, com respiração artificial, discursava aos que o visitavam contra os autoritários que esmagam os anseios do povo.

Armênio, uma lição de vida. 

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/