Armênio Guedes, um brasileiro inesquecível
Morreu nesta madrugada Armênio Guedes, aos 96 anos.
Morreu certamente pensando em política, generosamente.
Sobre ele há um belo livro, de Sandro Vaia — Armênio Guedes – Sereno Guerreiro da Liberdade, assim como, entre outros depoimentos encontráveis no Youtube, uma belíssima entrevista no "Roda Viva".
Numa manhã de domingo no começo dos anos 80, Lei da Anistia já em vigor, exilados como ele de volta ao Brasil, cerca de 40 jornalistas do velho PCB reunidos num congresso ainda clandestino, receberam a notícia de que haveria uma surpresa naquele dia de encerramento das atividades.
Em seguida, no subsolo de um casarão em algum lugar em São Paulo ou perto de São Paulo, surge uma figura magra, pequena, de olhos azuis que mais pareciam dois sóis.
Em vez de se sentar na cadeira destinada a ele, senta-se sobre a mesa, coça os olhos para poder ver melhor naquele lusco-fusco do subterrâneo, e exclama:
"Poxa vida! O que um bando de jovens está fazendo aqui numa manhã tão bonita? Vocês não tinham nada melhor para fazer?"
Assim, em meio a uma gargalhada ampla, geral e irrestrita, Armênio Guedes se apresentava a todos para, em seguida, fazer uma palestra iluminadora sobre os valores da Democracia e sua experiência como militante político que rompeu com quaisquer resquícios do stalinismo.
O baiano Armênio Guedes viveu quase um século, ouvindo o que há de melhor na música, jazz particularmente, torcendo pelo Botafogo e curtindo cada instante da vida sempre em busca das melhores soluções, sem ódio e sem medo.
Ainda 11 dias atrás, já hospitalizado, com respiração artificial, discursava aos que o visitavam contra os autoritários que esmagam os anseios do povo.
Armênio, uma lição de vida.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/