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Blog do Juca Kfouri

Sangue ruim no esporte

Juca Kfouri

04/01/2015 12h56

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POR DORRIT HARAZIM*, em "O Globo" de hoje

O que a gente quer e precisa é de um Plano Nacional de Esporte da dimensão do Brasil

Onovo ministro do Esporte, deputado George Hilton, não é economista nem francês. Não se chama Thomas Piketty nem vendeu 1,5 milhão de exemplares de "O capital do século XXI". Em comum, eles têm apenas a idade, 43 anos.

Piketty acaba de rejeitar o título de cavaleiro da Légion d'Honneur por considerar que não é papel de um governo — no caso o do socialista François Hollande — decidir quem é honrado.

No caso do nosso pastor da Igreja Universal ungido a ministro, a questão não é de honra, e sim de política. Já por isso, e considerando-se o esdrúxulo currículo do baiano de Alagoinhas, nada o faria declinar o convite. Problema da presidente Dilma Rousseff, responsável pela sua nomeação ao cargo. A vaia que marcou a posse do novo ministro pode ter sido constrangida e constrangedora, mas a biografia do deputado já deve ter sido marcada por desconfortos maiores.

Amargo é o que está por vir em decorrência de sua nomeação: mais quatro anos de oportunidades perdidas num país inebriado por grandes eventos, mas que, em mais de 500 anos, ainda não conseguiu ter uma política pública para o esporte.

Em entrevista concedida a Luana Nunes Leal, de "O Estado de S.Paulo", o prefeito do Rio, Eduardo Paes, sustenta que a pasta pode ser tocada por um bom administrador, não é essencial que seja um profundo conhecedor. "Se o sujeito for bom gestor, vai muito bem. O que a gente quer é mais atuação do governo federal na Olimpíada", disse o prefeito da Rio 2016.

Engano. O que a gente quer é muito mais do que uma impecável festa de esportes olímpicos que deixará saudades a toda uma geração. O que a gente quer e precisa é de um Plano Nacional de Esporte da dimensão do Brasil, capaz de garimpar o inexplorado potencial esportivo nacional. Jogos Olímpicos são um desperdício de esforço e de recursos quando não acompanhados de uma política pública para o esporte. O inverso talvez fosse mais sadio: os Jogos como coroação da melhoria na formação esportiva da nação.

*Dorrit Harazim é jornalista, Prêmio Esso de Reportagem em 1994 e cobriu todos os Jogos Olímpicos desde 1980, em Moscou. A Rio-16 deve ser sua décima cobertura.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/