A CBF sempre de volta ao passado
POR HUMBERTO MIRANDA*
A famosa dupla vice-versa da CBF, os imberbes Marin e Del Nero, resolveu escolher "novos gaúchos" para comandar os destinos da Seleção Brasileira.
Um "de bigodinho" e tudo, outro "sem bigode".
Ao descartar a contratação de um técnico estrangeiro, a dupla enterrou qualquer possibilidade de renovação no nosso futebol.
Restava esperar que alguma opção interna revelasse um quê de sabedoria anciã dos dirigentes na escolha do técnico. Ledo engano.
Para gente conservadora como eles, o poder é um hábito e com ele não se brinca.
São passadistas. E, como tal, jamais darão um passo à frente que signifique abrir mão do mando absoluto que detêm.
As opções internas de treinadores, na verdade, também não eram muitas e, então, resolveram apostar na dupla Gilmar-Dunga.
Se olharmos para São Paulo, é fato que os técnicos gaúchos fazem sucesso há muito tempo em terras por estas bandas (por que será?).
Nada mais coerente com o hábito passadista de trazer Dunga de volta.
O excelente Leonardo Bertozzi, comentarista da ESPN Brasil, matou de uma paulada só a discussão no "Linha de Passe" de sexta: a CBF foi de Felipão em 2002, de Parreira em 2006, de Dunga em 2010, de Felipão e Parreira em 2014 e agora retorna ao projeto Dunga 2018. A questão é política, sentenciou corretamente.
Ninguém na CBF olha para o futuro, acostumados que estão ao "céu de brigadeiro".
As escolhas passam por aqueles pessoal e politicamente afinados com a cúpula.
A Seleção Brasileira hoje é vítima de uma organização patrimonialista e de uma visão rentista do futebol. Isso precisa ser diuturnamente combatido, independentemente dos méritos eventuais desses treinadores.
Nesse esquema, só o resultado conta.
Não se pensa em futebol com outro sentido.
Por isso, a discussão sobre os méritos de Dunga quando dirigiu a Seleção Brasileira soa infrutífera.
A estatística, nesse caso, conta contra os que desejam mudanças.
Por isso, cuidado com as estatísticas!
Como diz a piada infame, elas são que nem biquíni fio dental. Mostram tudo, menos o essencial.
Digo isso porque o próprio Dunga até hoje lamenta, de forma irascível, que gostemos mais da Seleção de Telê (1982) do que da de Parreira (1994).
Gostar da Seleção de Dunga é que não dá.
Lutamos contra a permanência do atraso.Vai ser preciso mais que Bom Senso para lidar com essa turma.
A coerência da CBF é continuar indo para trás.
*Humberto Miranda é professor de Economia da UNICAMP.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/