Serra Dourada quase como na serra gelada
A torcida goiana tem um mau hábito de tocar buzinas antes e durante o jogo.
Tocou-as até mesmo no minuto de silêncio em homenagem a Marinho Chagas e Maurício Torres.
Coisa feia, também porque, no Brasil, não se sabe organizar convenientemente nem minuto de silêncio.
Com a bola rolando foi o Panamá, cheio de gás, quem tomou a iniciativa do jogo.
Fazia calor em Goiânia, nada exagerado como o frio de Teresópolis, mas o jogo era morno.
Entre a serra fluminense e o Serra Dourada havia um amistoso pelo caminho.
Quem o esquentou foi David Luiz, ao perder a cabeça e dar uma entrada forte para que um panamenho deixasse de graça.
A defesa brasileira trabalhava forte e o meio de campo e o ataque descansavam.
Não adianta.
Por mais que o técnico queira competição, a nove dias da Copa os titulares se preservam.
Até as buzinas calaram no meio primeiro tempo, adormecidas.
Aos 23, um passe longo e desorientado do capitão David Luiz despertou as primeiras vaias no Serra Dourada quase lotado.
Aí, Neymar arrancou e foi derrubado na meia lua.
A massa se animou com a perspectiva do gol, ele catimbou até o apitador boliviano fazer a distância regulamentar e fez 1 a 0 para a Seleção.
Que merecer não merecia, mas vencia, aos 26.
Em seguida, o menino santista fez uma arruaça na defesa adversária e deu para Fred, que não alcançou a cabeçada.
Logo depois ouviu-se o inevitável, e entorpecente "sou brasileiro com muito orgulho e muito amor".
O jogo prometia mais no segundo tempo, quando meia dúzia de sedentos reservas entrariam em campo.
Mas antes de acabar o primeiro, aos 39, meio de bico, Daniel Alves ampliou o marcador, para alegria de Júlio César que se fosse um cone daria no mesmo.
Os panamenhos resolveram entrar para história abrindo a caixa de ferramentas.
Já imaginou tirar o Neymar da Copa? O cara ficaria famoso no mundo todo.
Maicon, Maxwell e Hernanes entraram depois do intervalo nos lugares de Daniel Alves, Marcelo e Ramires e antes do primeiro minuto Neymar deu de calcanhar para Hulk fazer 3 a 0.
A tarde estava ganha e Felipão ainda viu Júlio César fazer uma defesa portentosa na primeira bola que foi na direção do gol brasileiro.
Fred saiu para entrar Jô. O centroavante tricolor ainda está em fase de aquecimento.
Willian substituiu Oscar, troca que, se duvidar, será feita mais adiante para ficar, como, aliás, aconteceu no Chelsea.
Henrique descansou David Luiz, aplaudidíssimo.
O 4 a 0 nasceu de virada de jogo de Neymar para Maxwell que deu uma cavadinha na saída do goleiro para Willian se aproveitar sem dó.
Dois vira, quatro acaba.
"Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor" cantavam 31.861 torcedores presentes, ou quase isso, ou a metade, na verdade, 1/4 e ainda bem porque se fossem todos seria insuportável…
De tudo que fez em dois coletivos na serra fluminense restou a movimentação necessária para obter ritmo de competição no Serra Dourada.
Todos saíram felizes e ainda pedindo Bernard que não poderia entrar, porque seis trocas é o limite.
Quer saber do que mais gostei?
Da defesa do Júlio César.
E das peripécias de Neymar.
Como gosto, muitíssimo deste Willian.
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Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/