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Blog do Juca Kfouri

Um incrível história de Sócrates

Juca Kfouri

19/02/2014 00h05

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Por Dr. Turibio Leite de Barros

Se o destino não tivesse sido tão ingrato, hoje um grande amigo estaria comemorando 60 anos: Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, ou simplesmente Magrão.

Quem teve a felicidade de conviver com ele, certamente tem hoje o coração cheio de saudades. Eu tive a satisfação de tê-lo, primeiro como aluno do curso de Medicina Esportiva na UNIFESP, e depois como amigo durante mais de 20 anos.

O Magrão era sinônimo de muita coisa boa: alegria de viver, amizade sincera, boa música, conversas intermináveis e sobretudo, era sinônimo de uma bondade para com os amigos que poucos conheciam, pois ele fazia questão de não divulgar seus atos de desprendimento para com quem ele podia ajudar nos momentos difíceis.

Ele era também protagonista de histórias incríveis, as quais tinha enorme prazer em narrar para os amigos, geralmente regadas com muita cerveja gelada.

Uma dessas histórias é verdadeiramente incrível.

Ocorreu por ocasião da primeira vez em que ele jogou no Pacaembu, pelo Botafogo de Ribeirão Preto contra o Corinthians, na época em que além de jogar como profissional, estudava Medicina na USP de Ribeirão.

O jogo seria numa quarta-feira à noite em São Paulo e coincidia com uma prova que ele teria na Faculdade no mesmo dia, no período da tarde. Ao constatar o problema foi comunicar aos dirigentes do Botafogo que não poderia jogar, pois sua prioridade era o curso de Medicina, e perder a prova significava perder o ano.

De imediato os dirigentes elaboraram uma estratégia, pois ele era o jogador mais importante do time e sua presença era indispensável. Combinaram que um taxi o esperaria na saída da Faculdade e assim que ele terminasse a prova o levaria direto para o estádio (naquela época não havia voo de Ribeirão para São Paulo).

Quando o taxi chegou ao Pacaembu, faltavam cerca de 15 minutos para o horário do jogo. O motorista na frente do estádio pergunta então ao Magrão por onde entrar, ao que ele responde não ter a menor ideia, pois era a primeira vez que jogaria ali.

Com sua calma habitual, dispensou o motorista, desceu do taxi e concluiu que só teria uma forma mais rápida de entrar: simplesmente foi até a bilheteria e comprou uma entrada!

Já dentro do estádio, localizou o túnel por onde deveria entrar o Botafogo e encostou no alambrado, no ponto mais próximo.

Ao tentar argumentar com um guarda que precisava entrar, pois tinha que jogar, ouviu do segurança uma sonora gargalhada! Quando o guarda já se preparava para pedir reforço para deter aquele grandão maluco, um dirigente do Botafogo que estava na beira da entrada do túnel finalmente viu o Magrão e imediatamente orientou: "Pula o alambrado!"
Imaginem a cena; minutos antes de o time entrar em campo, um grandão magro vestido de branco pula o alambrado, acompanhado do olhar estupefato dos guardas e entra correndo túnel abaixo.

Nesta hora o time do Botafogo que já estava no túnel, interrompe a entrada e o Magrão troca de roupa na escada e entra para jogar sem aquecimento, nem nada.

Perguntado sobre o resultado do jogo ele respondia que houve empate e ele fez 2 gols! (Na verdade, ele empatou o jogo em 1 a 1 aos 30 do primeiro tempo, foi substituído, esfalfado no segundo e o Botinha acabou goleado por 4 a 1).

Para terminar a história, argumentava: "Eu devia entrar para o Guiness, pois devo ser o único jogador profissional que pagou para jogar!!!"

Que saudade do Magrão!

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/