Galô!
POR LUIZ GUILHERME PIVA
É tradicional em Belo Horizonte.
Mas nestes dias, vésperas das finais do Mundial de Clubes, ouve-se mais e melhor.
Principalmente daqui, sozinho, em silêncio, sem as minhas músicas, neste quarto de hotel – do qual desejo Assalam Alaikum (algo como "tudibom procê") para os jogadores e torcedores que estão lá e para cá de Marrakesh.
É o seguinte.
Alguém grita "Galô!". Logo outro ecoa: "Galô!". E outro, e mais outro, que apanha aquele grito e o lança a outro, e este a outros, que com muitos outros se cruzam, e os milhares de gritos de "Galô!" formam uma rede, uma tenda, um toldo sobre a cidade, como a dos galos que, com seus cantos, tecem sobre nós as manhãs.
É uma Missa do Galo – que lembra o galo que cantou à noite, anunciando, na véspera, o nascimento de Cristo – celebrada a toda hora, em qualquer lugar. E que, nestes dias, de poucas vésperas e poucas manhãs a tecer até o Mundial e até o Natal, é rezada inúmeras vezes por mais e mais gritos de "Galô!", como a coser a mais clara das manhãs para os atleticanos, sejam eles cristãos, pagãos ou ateus.
É também uma bússola sonora mostrando o norte, que nestes dias é o Oriente – como foi para a estrela que guiou os reis até o local do nascimento que o Galo anunciara. Como uma versão em eco dos cataventos em que o Galo, altivo sobre os pontos cardeais, nos mostra a direção do vento.
Para que, em qualquer ocasião, saibamos para onde ir, seja qual for o nosso lugar.
E nestes dias o Galo aponta para Marrakesh.
Para que, embora não saibamos como, e tampouco saibamos por onde, saibamos que vamos pra lá!
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Luiz Guilherme Piva está no meio do som.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/