Meu nome é Icasa, o Verdão do Cariri
Por ANTONIO COELHO
Muito prazer, Icasa!
Você não me conhece bem, sou o primeiro time do interior do Nordeste prestes a participar da primeira divisão do Campeonato Brasileiro na era dos pontos corridos. Faltam apenas duas rodadas. No dia 30 de novembro, um sábado, você saberá se fiz história. Quero casa na primeirona.
Dois Verdões já subiram em 2013 para a Série A. O primeiro, você conhece muito bem, passou pela Série B feito um raio. O segundo foi o Verdão do Oeste, a Chapecoense, de Santa Catarina. Sou o terceiro, o que tem menos recursos, meio salário de um professor-treinador do sul cobre toda a minha folha. Sou o Verdão do Cariri. Preciso de casa na primeirona.
Moro em Juazeiro do Norte, no Ceará. Minha casa é acanhada, simples, pequena. Nela cabem somente umas dez mil pessoas. Costumo treinar na cidade vizinha, no Crato. Ando desconfiado, se eu subir, no ano que vem vão querer que eu me mude para outra casa muito maior, recém-reformada, em Fortaleza. Minha casa é modesta, mas lá já estiveram Pelé, Zico e o Doutor Sócrates.
Longe de casa, ganhei do Sport em Recife, ganhei do América em Belo Horizonte, ganhei do Paysandu em Belém, ganhei do Atlético em Goiânia, ganhei do Bragantino em Bragança Paulista e fui o único a ganhar da Chapecoense em Chapecó. Mereço casa na primeirona.
Diga-me, você está querendo saber algo mais. Pode falar, quer saber se terei ajuda extracampo? Não me interprete mal, muitos acreditam que o padre Cícero, meu padim Ciço, vai me dar uma mãozinha na subida. Que não se misture devoção religiosa com futebol nem política com religião. Se eu subir, será com minhas próprias pernas, acredite, bote fé. Apenas pedi, por via das dúvidas, que esta frase constasse no meu hino: "Meu padim, nos gramados do céu, é mais um craque a orar, meu Verdão".
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