Vaias só para o Poder
A "festa" de abertura foi chinfrim, mas isso não tem a menor importância porque quem quer ver futebol quer ver futebol.
Os telefones não funcionavam na tribuna de imprensa, o 3G caiu ainda antes de o jogo começar e o pau comia lá fora, com barulho de bombas sendo percebido mesmo com música alta no Mané Garrincha.
Dois "fiscais" da Anatel, assim identificados em suas camisas, com uma geringonça nas mãos, sentados para ver o jogo, se surpreederam ao saber o que ocorria…
Os monitores de TV da tribuna de imprensa tinham sua marca, SempToshiba, ocultada por fitas pretas porque o patrocinador da Fifa é a Sony…
Imagine na Copa.
Mas nada se comparou à cara da presidenta Dilma Roussef quando foi estrepitosamente vaiada ao lado de Joseph Blatter, que pediu fair play para ser ainda mais vaiado. Como ela, ao declarar a Copa das Confederações oficialmente aberta.
É o preço que paga quem se cala diante das iniquidades do país e faz acordos espúrios para sobreviver, como seus antecessores.
Mas o Brasil, parece, está acordando.
José Maria Marin, escondido pelo cerimonial, acabou se dando bem…
É claro que dirão que foram os brancos, a elite que vaiou a presidenta. Pode ser. Mas os excluídos estavam fora do estádio tomando bomba na cabeça.
No gramado, o inverso.
Com 3 minutos, Marcelo virou o jogo para Fred matar no peito, à futvôlei, para Neymar pegar um tirambaço de direita e fazer um GOLAÇO, para ouvir seu nome entoado em coro no estádio.
Oscar errou um passe no meio de campo e armou o contra-ataque japonês, mas Honda mandou a bola no Palácio da Alvorada, onde, certamente, Dilma preferiria estar.
Honda fez Julio César bater roupa na secura do Distrito Federal e a Seleção mais ameaçava que cumpria, com sua saída de bola marcada pelos japoneses.
Até que ponto aguentariam aquele ritmo com o fuso horário ao contrário?
Hulk tabelou com Daniel Alves e por pouco o Brasil não ampliou, aos 21.
O Brasil trocava passes e Marcelo os errava.
Aos 24, o juiz português entendeu o coro que o mandava tomar naquele lugar.
E a torcida cantava que é brasileira, com muito orgulho.
Ah, e muito amor.
Os dois únicos times classificados para a Copa 14 não homenageavam o futebol na abertura do evento teste.
Marcelo fez uma jogadaça e Fred bobeou.
Felipão via seu time jogando com a paciência do Barcelona e não devia estar gostando, porque acha o jogo do time catalão, "chato".
Hulk bateu falta com violência e amassou a lataria do Honda.
Ali pelos 40, "Lucas", "Lucas", como se ele fosse…ah, deixa pra lá.
Mas Hulk logo calou a galera mandando uma bomba, das boas, rente à trave, para em seguida, uma combinação entre Neymar e Fred quase resultar no segundo gol antes de o primeiro tempo acabar sem vaias nem com aplausos entusiasmados, mas com alguns.
Que viraram euforia quando Paulinho, nos mesmos 3 minutos do gol inicial, deu bela virada para ampliar: 2 a 0.
E tome toque de bola.
Curiosamente, o goleiro Kawashima fizera menos defesas que Júlio César, aliás, soltando bolas fáceis.
A massa pedia Lucas como se fosse…, ah, deixa pra lá.
Mas Felipão esquentava Dantes, Hernanes e Jô.
Provavelmente para avançar David Luiz e poupar a costela de Fred.
Só Neymar divertia a galera, com dribles insinuantes sob o olhar respeitoso de seu marcador, Uchida.
Júlio César fez boa defesa, mas a torcida, mais de 67 mil torcedores, aplaudiu mesmo foi o ataque japonês, numa demonstração do tal fair play pedido por Blatter.
Às vésperas de a torcida dormir, Felipão, que de bobo não tem nada, mudou de planos, evitou ser vaiado como foram os poderosos e tratou de botar Lucas para jogar, aos 28, no lugar de Neymar, que se machucara.
Sobraram aplausos para quem saiu e para quem entrou, extensivos ao treinador certamente, pelo menos na cabeça dele.
Depois saiu Hulk e entrou Hernanes e deu para sentir que o atacante começa a ganhar a galera.
Fred, que só faz gols quando é mesmo preciso, saiu para entrar Jô.
Caía uma leve chuva quando, nos acréscimos, em contra-ataque, Oscar deu para Jô completar a festa em campo: 3 a 0.
A estreia brasileira foi bem melhor que a abertura da Copa, Dilma que o diga, assim como dirão os ativistas que foram bombardeados, os torcedores que ficaram horas na fila dos ingressos e os jornalistas que tiveram más condições de telecomunicações. Mas estes últimos que se danem.
O governo e a Fifa amargaram uma enorme reversão de expectativas e Felipão, se continuar a mostrar trabalho assim, pode se candidatar à presidência…
NOTAS
Júlio César, soltou bolas e fez boas defesas: 7;
Daniel Alves, ficou mais preso, desceu pouco e aí combinou bem com Hulk: 7;
Thiago Silva e David Luiz no mesmo bom nível: 7;
Marcelo errou muito no começo, cresceu do meio para o fim: 7;
Luiz Gustavo, sério às pampas, deu um chutão que deve ter deixado Felipão encantado:7
Paulinho, quase como no Corinthians, foi muito bem: 7,5
Oscar, cumpridor, hoje sem maior brilho, a não ser no passe brilhante do terceiro gol: 7;
Hulk, sempre um perigo, para o bem ou para o mal. Eu gosto: 7;
Fred, discreto, mas deu o gol para Neymar: 7;
Neymar, fez um golaço, foi bem marcado, driblou, só não fez chover porque já tinha saído quando começou: 8
Jô fez o gol e leva 7, enquanto Lucas e Hernanes ficam sem nota.
Felipão fez o que tinha de fazer: 7,5.
Agora, o pessoal aí da foto abaixo, este levou zero da plateia e da patuleia.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/