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Blog do Juca Kfouri

Pequena aula de interpretação de texto

Juca Kfouri

21/04/2013 00h41

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Com nove horas no ar, a nota sobre o Mito Rogério Ceni teve 500 comentários e mais de três centenas rejeitados por grosserias covardes.

E olhe que de uns meses para cá as novas regras para comentar no blog restringiram uma barbaridade o número de comentários, em busca de qualidade e não de quantidade.

Sim, a maior parte dos comentários em desaprovação à nota, dos cenistas (não confundir com os senistas), uma espécie de apóstolos do Mito, o que por si só atesta o seu valor de jogador mais importante da história do clube mais vitorioso do país.

Muitos, porém, com comportamento que beira ao fanatismo de certas seitas, incapazes de entender o que lêem.

Destrinchemos o texto:

Não chego, como o brilhante André Barcinski, a achar que Rogério Ceni ficou parecido com o Feliciano em sua exortação pré-jogo contra o Galo.

Aí está dito que discordo de Barcinski…

Embora concorde com um comentarista no twitter do Barcinski que disse que o goleiro mais parecia um pastor

Aqui, concordo com chamá-lo de pastor, sem, contudo, fazer nenhuma referência negativa aos pastores, apenas com a constatação em torno do tom de pregação…

Do que eu não gosto mesmo é que ele quase nunca fala "nós".

É quase sempre "vocês", como se Ceni não fizesse parte do grupo, como se fosse superior aos companheiros.

Então, critico, explicitamente, o que considero um discurso individualista. Simples assim.

Tudo isso sem menosprezar a coragem que teve, porque se perdesse o pênalti, e o São Paulo fosse eliminado, o preço que pagaria seria altíssimo.

Mas reitero, ao finalizar, seu comportamento exemplar no jogo contra o Galo.

No comentário sobre o jogo, está dito que ele foi o nome da classificação, motivo também de ter ficado com o "Prêmio Osmar Santos" em meu comentário na quinta-feira, na CBN.

Rogério Ceni, em sua longa e extremamente bem sucedida carreira, me decepcionou apenas uma vez, quando fez o elogio de um dos bancos do mensalão, o BMG que chegava para patrocinar o São Paulo.

Critico o BMG como critiquei a MSI, assim como critico que se invista dinheiro público no estádio do Corinthians e considero um absurdo que o Morumbi tenha sido alijado da Copa do Mundo.

Só que a memória seletiva de um tipo de leitor com problemas cognitivos não registra, esquece, e chega até ao absurdo de imaginar que eu apoie Andrés Sanches para a CBF. Ele mesmo deve achar um absurdo.

Mas há comentários de gente, também, que imagina que eu não conheça pessoalmente o goleiro apesar de já tê-lo entrevistado um sem-número de vezes.

Há também os que acham que eu sou petista, tucano, e que sou incapaz de criticar a Globo, quando não sou nem uma coisa nem outra e critico a Globo.

Poucos jogadores, aliás, elogiei como Rogério Ceni — e basta pesquisar tanto no blog quanto nas colunas da "Folha de S.Paulo", disponíveis aí do lado direito do blog.

Razão pela qual acho tudo isso muito divertido e alerto para outros números.

São mais de mil as recomendações despertadas pela nota, algumas até possivelmente indignadas, mas devem ser a minoria.

E num sábado fraco, sem futebol, com menos de 100 mil visitas ao blog (90 mil, segundo o Google Analytics, para ser exato), menção que faço apenas para que se tenha uma ideia de que a maioria esmagadora lê e não comenta nem recomenda ou tuíta.

Certamente por entender exatamente o está escrito.

Boa noite.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Sobre o Autor

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/