Pequena aula de interpretação de texto
Com nove horas no ar, a nota sobre o Mito Rogério Ceni teve 500 comentários e mais de três centenas rejeitados por grosserias covardes.
E olhe que de uns meses para cá as novas regras para comentar no blog restringiram uma barbaridade o número de comentários, em busca de qualidade e não de quantidade.
Sim, a maior parte dos comentários em desaprovação à nota, dos cenistas (não confundir com os senistas), uma espécie de apóstolos do Mito, o que por si só atesta o seu valor de jogador mais importante da história do clube mais vitorioso do país.
Muitos, porém, com comportamento que beira ao fanatismo de certas seitas, incapazes de entender o que lêem.
Destrinchemos o texto:
Não chego, como o brilhante André Barcinski, a achar que Rogério Ceni ficou parecido com o Feliciano em sua exortação pré-jogo contra o Galo.
Aí está dito que discordo de Barcinski…
Embora concorde com um comentarista no twitter do Barcinski que disse que o goleiro mais parecia um pastor
Aqui, concordo com chamá-lo de pastor, sem, contudo, fazer nenhuma referência negativa aos pastores, apenas com a constatação em torno do tom de pregação…
Do que eu não gosto mesmo é que ele quase nunca fala "nós".
É quase sempre "vocês", como se Ceni não fizesse parte do grupo, como se fosse superior aos companheiros.
Então, critico, explicitamente, o que considero um discurso individualista. Simples assim.
Tudo isso sem menosprezar a coragem que teve, porque se perdesse o pênalti, e o São Paulo fosse eliminado, o preço que pagaria seria altíssimo.
Mas reitero, ao finalizar, seu comportamento exemplar no jogo contra o Galo.
No comentário sobre o jogo, está dito que ele foi o nome da classificação, motivo também de ter ficado com o "Prêmio Osmar Santos" em meu comentário na quinta-feira, na CBN.
Rogério Ceni, em sua longa e extremamente bem sucedida carreira, me decepcionou apenas uma vez, quando fez o elogio de um dos bancos do mensalão, o BMG que chegava para patrocinar o São Paulo.
Critico o BMG como critiquei a MSI, assim como critico que se invista dinheiro público no estádio do Corinthians e considero um absurdo que o Morumbi tenha sido alijado da Copa do Mundo.
Só que a memória seletiva de um tipo de leitor com problemas cognitivos não registra, esquece, e chega até ao absurdo de imaginar que eu apoie Andrés Sanches para a CBF. Ele mesmo deve achar um absurdo.
Mas há comentários de gente, também, que imagina que eu não conheça pessoalmente o goleiro apesar de já tê-lo entrevistado um sem-número de vezes.
Há também os que acham que eu sou petista, tucano, e que sou incapaz de criticar a Globo, quando não sou nem uma coisa nem outra e critico a Globo.
Poucos jogadores, aliás, elogiei como Rogério Ceni — e basta pesquisar tanto no blog quanto nas colunas da "Folha de S.Paulo", disponíveis aí do lado direito do blog.
Razão pela qual acho tudo isso muito divertido e alerto para outros números.
São mais de mil as recomendações despertadas pela nota, algumas até possivelmente indignadas, mas devem ser a minoria.
E num sábado fraco, sem futebol, com menos de 100 mil visitas ao blog (90 mil, segundo o Google Analytics, para ser exato), menção que faço apenas para que se tenha uma ideia de que a maioria esmagadora lê e não comenta nem recomenda ou tuíta.
Certamente por entender exatamente o está escrito.
Boa noite.
Sobre o Autor
Colunas na Folha: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/